A Pitangueira do Seu Zeca, nossa árvore símbolo
Seu Zeca em sua charrete em frente a sua venda, no Largo do Taboão, onde hoje é o Extra. Logo atrás, é possível ver a pitangueira, árvore símbolo de Taboão da Serra (Foto: Acervo Waldemar Gonçalves)
〉 Armando Andrade
Houve um tempo em que Taboão da Serra era uma comunidade de vida simples, predominantemente rural, que tinha como principal símbolo uma Pitangueira de médio porte. A árvore era sinônimo da hospitalidade característica dos taboanenses daquela época, que viviam de maneira pacata e cultivavam valores e costumes engolidos pela chegada progresso.
A história da Pitangueira encanta desde a sua origem. Ela foi dada de presente a José André de Morais, o seu Zéca, dono da única venda da região naquela ocasião, pela sua esposa, dona Catarina Moraes de Oliveira, no ano de 1945.
A Pitangueira foi plantada em frente à venda do seu Zéca que ficava diante da igreja antiga, no tempo em que a estrada nem era asfaltada. Havia apenas um caminho de terra e os quintais das propriedades não tinham limites claros como hoje. Naquele tempo ainda se usava carros de bois e o seu Zéca era um bom carreteiro, transportando carvão do Embu até Pinheiros pela Estrada Velha de Itapecerica.
Cuidadosamente plantada em frente à venda a árvore-símbolo da cidade emprestava sua sombra e seus frutos aos frequentadores do local. Era no seu tronco que os cavalos, principal meio de transporte de então, eram amarrados enquanto seus donos faziam suas compras e colocavam as conversas em dia. Na saída, eles se deliciavam com os frutos saborosos gentilmente cedidos pela graciosa Pitangueira.
“Nos idos da criação do município, o hábito de ter árvores frutíferas e belos jardins na frente das casas era a norma. Ser jardineiro era uma profissão próspera. Depois veio o estreitamento das calçadas, a eliminação dos quintais para construção de garagens, os prédios comerciais sem espaço para flores ou frutas. E as árvores e a sua sombra foram desaparecendo, abatidas pela sofreguidão da explosão imobiliária”, escreveu José Sudaia Filho no artigo Uma Caminhada Filosófica pelo Largo do Taboão.
Como o escritor e estudioso da história da cidade enfatiza no site, a história da árvore-símbolo de Taboão da Serra foi retratada num dos livros de autoria do saudoso Waldemar Gonçalves, jornalista, escritor, alfaite, defensor e preservador da história de Taboão da Serra.
“No Largo do Taboão ficava a venda, a casa e a chácara do sr. José André de Moraes, figura exemplar de pioneiro e patrono da cidade. Na época não existia ainda o conceito de ecologia, e talvez nem precisasse, porque seu Zeca ganhou de sua esposa, uma pitangueira de presente. E esta árvore, transplantada para o outro lado da rodovia ao lado da Igreja, se tornou o símbolo vivo da cidade”, enfatiza José Sudaia no texto em que transcreve a entrevista que fez com Nelson de Oliveira Moraes, filho do casal que trouxe, plantou e cuidou da Pitangueira na cidade.
Basta um mergulho rápido no passado para constatar a importância da árvore para Taboão. A Pitangueira é citada com destaque no estudo denominado de “Taboão da Serra: Construindo sua história nas trilhas do futuro”, feito pela prefeitura da cidade no ano de 2004. Um breve relato da sua história consta na página 34 do livro que traz Cenas da Cidade entre os anos de 1918 até 1980.
A foto da Pitangueira em frente ao armazém do sr. Zéca vem precedida da legenda “…além das histórias narradas, serviu durante muitos anos para que os cavaleiros e charretistas amarrassem seus animais enquanto faziam compra. O prédio ficava no Largo do Taboão, no centro do entroncamento viário, e seu proprietário durante 49 anos foi José André de Moraes, o Zéca da venda.
Armando Andrade foi prefeito de Taboão da Serra por duas vezes, vereador e empresário. Escreveu no Portal O Taboanense as memórias da cidade