Afinal, por que precisamos do dia da consciência negra?
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Najara Lima Costa
Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi morto por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho em 20 de novembro de 1695 e essa data foi recentemente cultivada pelos movimentos negros como um grande símbolo de luta pelo alcance de direitos à população negra. A comemoração do dia da consciência negra vai contra um imaginário construído sobre o 13 de maio, tratado por muitos como uma falsa abolição, já que a libertação dos negros da escravidão (um crime contra a humanidade, segundo órgãos de defesa dos direitos humanos), veio acompanhada de perseguições, opressões e racismos.
A busca pela descolonização do pensamento é algo constante e necessário dentro e fora da perspectiva educacional. Temos hoje uma maioria de nossa população composta por negros, mas que não se vê representada na mídia, na política e em espaços de prestígio social. A ideologia do branqueamento, presente estruturalmente em nossa sociedade é simbolicamente uma violência muito forte e no campo material esse mesmo modelo se reverte em pobreza e marginalização.
Ser negro no Brasil resulta, com maior propensão, morrer com pouca idade, ser perseguido pela polícia, ter os piores salários e sofrer os maiores desgastes mentais oriundos de uma sociedade racialmente estratificada. Após quase 130 anos do fim da escravidão a verdadeira equidade entre seu povo é uma falácia, ainda assim, são muitos os que questionam o dia da consciência negra, afirmando que devemos objetivar a consciência humana. Ocorre que a desigualdade racial persiste à desigualdade social e negros são de longe os mais vulneráveis às injustiças sociais por conta do racismo.
O “20 de novembro” é uma data de afirmação e resistência, qual busca-se retratar o orgulho negro em um contexto social ainda adverso para esse segmento. Nesse sentido é preciso que pensemos cada vez mais em estratégias de se reverter essa brutal realidade onde descendentes de povos que foram escravizados possuem maiores dificuldades no acesso às oportunidades, situando-se, muitas vezes, em condições desumanizantes. Diante dessa realidade, não cabe questionar o dia da consciência negra, pois, é necessário que questionemos acima de tudo a perversidade do racismo.
Najara Lima Costa é mestranda em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC – UFABC. É negra, taboanense e pesquisadora das relações raciais com foco em educação e trabalho.