Ary Dáu: a história de Taboão da Serra se reflete em sua vida
Biografia publicada no Portal O Taboanense em 2004, Ary Dáu morreu em setembro de 2010
Fala mansa, tranquilo e consciente. Esse é Ary Dáu, terceiro prefeito de Taboão da Serra. Nascido em seis de janeiro de 1930 ele chegou à cidade no dia oito de agosto de 1953. Mora no Jardim Maria Rosa, na mesma casa, há 52 anos. “Seo” Ary mudou-se para Taboão porque a casa onde morava com a mãe no Cambuci, em São Paulo, precisava ser entregue para a dona.
Um Diácono da Igreja que freqüentava, na época, lhe ofereceu uma de suas casas. “Dei 30 mil de entrada e pagava 1500 por mês, isso dinheiro da época, já não me lembro mais qual era acho que cruzeiros”, diz rindo.
Ele lembra que durante os primeiros quatro anos foi difícil morar aqui, pois na cidade não havia luz elétrica, o fogão era a querosene, ferro à carvão, condução somente no bairro do Ferreira, era preciso andar 2,5 km “saía e voltava com as estrelas”.
“Eu levantava às 5 horas da manhã, virava a bomba para encher a caixa d’água, às vezes conseguia uma carona com os caminhoneiros, aqui tinha muitas olarias”, comenta. Seu primeiro contato com a política foi através da Sociedade Amigos de Taboão da Serra, SATS, onde era tesoureiro e também participou na campanha de emancipação política.
Cansado da escuridão, seu Ary, que trabalhava em um escritório na Libero Badaró, conversou com amigo advogado que trabalhava na Light (Eletropaulo), levou para esse amigo o mapa do loteamento de todo o bairro, foi de casa em casa pedir a colaboração dos moradores para que conseguissem trazer a energia elétrica para a cidade. Conseguiu arrecadar 120 mil cruzeiros, levou o dinheiro para o prefeito em Itapecerica, e, enfim, chegou a luz elétrica.
Algum tempo depois saiu da SATS e foi para a SAJAMR – Sociedade Amigos do Jardim Maria Rosa lá reivindicou telefone público e correio. “Eu tinha uma caixa postal no correio central em São Paulo, todas as correspondência iam para lá, eu trazia e pagávamos um garoto para distribuir no bairro. Cada família pagava 30 centavos para ele”, lembra.
Em 1959 participou da primeira eleição, saiu candidato a vereador. “Nós nem sabíamos direito o que era política”, seu Ary teve 51 votos, “quase 10% do eleitorado que na época eram mais ou menos 600 pessoas”.
Não foi eleito, pois seu partido não fez o coeficiente político. Em 1963, pelo PSP – Partido Social Progressista, candidatou-se novamente a vereador, obteve 302 votos. Foi o mais votado e depois eleito presidente da Câmara por dois anos, devido ao destaque que obteve no Legislativo tornou-se o principal nome na corrida para a prefeitura.
Candidato a prefeito, Ary Dáu, ganhou por uma diferença de apenas 3 votos. Em 1º de fevereiro de 1969 tomou posse. Durante os quatros anos de mandato construiu muitas salas de aulas, abrigos para ônibus, guias e sarjetas, trouxe iluminação para algumas vias públicas, desenvolveu um importante trabalho de assistência social, não permitia a construção de barracos, e o que ele considera seu maior feito, trouxe para Taboão da Serra água encanada até o Pirajuçara.
“Não permitia a construção de barracos porque isso desvaloriza a cidade. E a água encanada foi a principal obra do meu governo foi no dia 13 de novembro de 1972”, fala orgulhoso.O ex-prefeito diz que está feliz com o crescimento da cidade e acredita que cada prefeito que passou fez sua parte. “A cidade cresceu com uma parcela de trabalho de cada um”.
Mas, Ary Dáu revela que a política não deixou saudades e que não permite que nenhum de seus herdeiros se envolva com ela. Evangélico desde que nasceu, como gosta de dizer, fala que é imensamente grato à Deus por tudo que conquistou na vida, por sua esposa Terezinha, com quem está casado há 53 anos, por suas filhas Sônia e Selma, genros e netos.
“Dou graças à Deus por tudo que tenho pela minha família, pela paz e proteção. Estou esperando o dia que Ele vai bater o sino e eu vou subir para o andar de cima, para junto de Meu Deus”, finaliza. Mas antes diz que pretende comemorar Bodas de Diamante com dona Terezinha, 75 anos de casados.
› O texto segue as regras ortográficas da língua portuguesa vigentes na época da sua publicação