Até os ícones se vão: uma reflexão sobre a morte do jornalista Waldemar Gonçalves
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* Artigo publicado originalmente no Portal O Taboanense em junho de 2007
Por Eduardo Toledo
Tarefa complicada, daquelas penosas, doídas. O texto não flui como deveria, precisa ser arrancado em um processo que remexe na memória, relembrando encontros que muitas vezes foram casuais, algumas vezes furtivos, mas sempre cheios de boas risadas e também de aprendizado que ao longo da nossa amizade acabou se transformando em admiração.
A morte do jornalista Waldemar Gonçalves há mais de um mês, era uma das pautas que eu abdicaria de escrever. Não por nada, mas tinha certeza que as idéias insistiriam em ficar escondidas, se recusariam em parar no papel sem certa dose de sacrifício.
Empenho-me, acho que o velho Waldemar gostaria de ler esses parágrafos, essa última homenagem que eu poderia fazer a ele, que me ensinou a amar essa cidade e a preservar a sua história e memória. Ainda bem que os colegas da imprensa regional não deixaram todas as homenagens para depois de sua morte, pelo contrário, o “velho” Waldemar sempre foi tão querido que todos os aplausos possíveis foram dados em vida e pessoalmente.
Sem dúvida essa crônica, de alguma forma, já faz parte desse ideal (de preservar a memória da cidade) que passou de amigo para amigo: espero que esse texto sirva para lembrar de um dos ícones da nossa história, um jornalista que era alfaiate, respeitado e admirado pelas suas posições e que conseguia enxergar a possibilidade de realizar onde ninguém mais se aventurava a sonhar.
Waldemar Gonçalves foi mais do que um ícone da imprensa regional, mais do que um desbravador de linotipos e fotolitos, foi um homem que viveu na essência a cidadania e fez da sua profissão uma cruzada contra as injustiças e desmandos do poder. Junto com ele boa parte da nossa história foi embora, mas sem dúvida o que ficou foi uma lição: a de respeito e de amor por Taboão da Serra.
Lidar com a morte é sempre complicado… Seria melhor que tudo fosse como Mário Quintana escreveu: “A morte deveria ser assim: um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fim”. Adeus, professor.