Caos: A história se repete
Publicado no Jornal Hoje em Notícias
Bastaram quase duas horas de chuvas na noite de segunda-feira, (02), para o centro de Taboão da Serra reviver cenas que para muitos nunca mais aconteceriam. Os córregos Pirajuçara e Poá mais uma vez transbordaram e o nível da água atingiu dois metros na rua Getúlio Vargas. Dois carros foram arrastados pela forte enxurrada do Poá. Moradores e comerciantes da região passaram a noite limpando e tentando recuperar o que sobrou. Ao amanhecer o que se viu foi uma região totalmente destruída. A obra do Piscinão foi interrompida e praticamente terá que ser refeita. O trânsito ficou complicado. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy esteve no local para avaliar os problemas. Já o prefeito de Taboão Serra, Fernando Fernandes não compareceu.
Ao comentar os estragos provocados pelas enchentes, Marta culpou o grande volume de chuvas que atingiu diversas regiões da cidade. “O que aconteceu foi o que disse o secretário de Infra-Estrutura Urbana. Poderiam ter sido feitas as obras que quisessem que, com o que caiu de chuva na cidade, não teria jeito”.
Ela afirmou que entrou em acordo com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) para que recursos eventualmente liberados para o Estado sejam investidos na construção de piscinões na região do córrego Pirajuçara. Desde sexta-feira, o município de São Paulo distribuiu 2.407 colchões, 2.383 cobertores e 1.043 cestas básicas para pessoas afetadas por chuvas.
A prefeitura de Taboão da Serra atendeu 211 famílias e distribuiu 457 colchões, 488 cobertores e 190 cestas básicas. O líder do governo na Câmara Municipal, Paulo Félix disse que a cidade já está em estado de atenção e tanto a Defesa Civil como a Assistência Social estão prontos para o primeiro atendimento.
“No primeiro atendimento, houve chocolate quente, pão com manteiga e sopa para as famílias que não tinha condições; depois que Defesa Civil concluir a avaliação dos estragos pela chuva, vamos atender melhor essas famílias”, finaliza o vereador.
Houve um deslizamento de terra no jardim São Mateus, em Taboão, mas ninguém ficou ferido. Segundo o Engenheiro de Obras da Prefeitura de TS, Ariovaldo Tadeu, Taboão viveu um dia de caos; “vivemos uma noite turbulenta, mas graças a Deus não tivemos vítimas fatais”, concluiu o secretário.
Morte
A única morte registrada foi a da doméstica Edilene Cavalcante de Souza, de 27 anos, que vivia em uma casa de três cômodos na favela da Viela da Paz, no jardim das Palmas, em SP. Ela foi surpreendida por uma enxurrada que invadiu a cozinha, arrastando os móveis. A casa ainda foi invadida por parte do muro do cemitério que rompeu com a força da água. Ela ficou presa sob os escombros e morreu.
Com a morte de Edilene subiu para 29 o número de mortos em decorrência das chuvas em todo o Estado de São Paulo, de acordo com a Defesa Civil. O número de desabrigados (que tiveram as casas destruídas) no Estado é de pelo menos 3.500 pessoas, sendo que mais de 15 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas.
A noite do terror
Na noite de segunda-feira, os moradores do Largo voltaram a lutar com um velho conhecido deles: o córrego Pirajuçara. O proprietário da loja de tapeçaria Gusto Design, senhor Amâncio perdeu tudo que estava dentro da loja. “O meu prejuízo está em torno de 10 mil reais, além de perder móveis de clientes”, afirmou o proprietário.
Izelso Menegusso, proprietário da papelaria na esquina está calejado, “quando vi as águas subindo, ergui a comporta que tenho na frente da loja para conter a enxurrada, mesmo assim perdi tudo que estava no estoque, atrás da loja”, declarou. Renato que ainda não tinha chegado do trabalho disse que entrou em casa nadando. Quando soube da enchente, correu para casa e ficou perto de sua mãe que estava sozinha. Dona Leia, disse que não agüenta mais essas coisas e vai embora, mas ela não tem para onde ir, e precisa vender o imóvel para poder comprar outro, só que longe dali. Ela mora naquela casa há mais de quatro anos.
O prejuízo maior foi no lava-rápido, na rua Santa Luzia; cinco carros foram invadidos pelas águas, dois deles caíram no leito do córrego e foram arrastados cerca de 100 metros, um passou por baixo da ponte da rua Getúlio Vargas.
Descaso da prefeitura
A equipe do Jornal Hoje ficou nas ruas até às três horas da madrugada de terça-feira e não encontrou ninguém da Assistência Social. localizamos apenas uma equipe da Defesa Civil, chefiada pelo engenheiro Tadeu. Uma moradora da rua Santa Luzia disse que quando ela morava em Barueri, a prefeitura agia rápido e imediatamente mandava os agentes sociais para atender a população atingida. “Moro em Taboão há dois anos, e estou espantada com o descaso da prefeitura. De onde eu venho, em Barueri, a prefeitura atuava com o pronto atendimento, mandando comida, colchões e cobertores para as famílias afetadas”, desabafa a moradora. Entramos em contato com a prefeitura, mas não fomos atendidos, mas o vereador Paulo Félix gentilmente atendeu a equipe e disse que o primeiro passo é mesmo da Defesa Civil; depois disso é que entra a Assistência Social.
Solidariedade das pessoas
Os moradores e comerciantes fizeram questão de destacar o trabalho dos guardas municipal da cidade e homens de um curso de bombeiros na cidade, que heroicamente retiraram pessoas que estavam prestes a serem levadas pela enxurrada. “Fico feliz de saber que possamos contar que essas pessoas que não eram as suas funções entrar nessa água suja, mas eles esqueceram dos problemas de saúde e o risco de vida que eles estavam correndo e entraram para salvar vidas. Parabéns a GCM de Taboão e esses homens do curso”, comenta o funcionário da papelaria que estava ajudando na limpeza da loja. O helicóptero Águia da PM, também salvou dois funcionários da obra do piscinão.