Cinema na laje, a lua como testemunha
Primeira exibição no Cinema na Laje, no Bar do Zé: só na Cooperifa
Sérgio Vaz
Na última segunda-feira aconteceu a primeira exibição do mais novo projeto da Cooperifa: o cinema na laje. E posso garantir uma coisa, enquanto a cidade de São Paulo suava em bicas, nós, quase cento e cinquenta pessoas, assistíamos um dos filmes de ação, baseados em fatos reais, mais suaves e românticos de toda breve história da nossa humanidade comunitária.
Um filme sobre a realidade, e repleto de ilusão. O nosso filme. Sobre a nossa história.
Não foi sonho, aconteceu mesmo, nós éramos os protagonistas, os diretores, os atores e atrizes principais. E o medo, o preconceito, a preguiça, a mentira e tantos outros vilões em nosso caminho, não passaram de meros figurantes, personagens sem expressão alguma. E sem direito à fala.
A Lua estava lá, minguante, como testemunha desta noite maravilhosa. Se não acredita pergunte a ela, ou a São Jorge, que dizem que mora lá, e que se for verdade, assistiu a tudo no sofá da sala. E se foi só sonho mesmo, em que a gente sonhou junto, e daí, qual é problema?
Os aviões passavam sobre as nossas cabeças enquanto a gente vivia esta história de amor, entre a Cooperifa e a comunidade, e muita gente disse que viu as pessoas nas janelas tentando entender o que estava acontecendo aqui na terra. Uma menininha disse que uma mulher, lá de cima, acenou pra ela.
Será que era avião mesmo? Sei lá, este negócio de passar cinema na laje na periferia, tem feito com que algumas pessoas façam contatos pra lá de imediatos. Para nós, os extraterrestres são certos corações alheios que não nos perdoam por não desistirmos de sermos felizes, e que, apesar de tudo e de todos, dos prós e dos contras, do descaso do estado, ainda assim ama a poesia.
E ainda assim, depois de um dia árduo de trabalho, de ida e volta no lombo humilhante do ônibus lotado, ainda gosta de cinema. Gosta e luta por finais felizes. Dia 16 tem mais, é que a gente se cansou de sonhar só na quarta-feira quando tem sarau da Cooperifa.
Valeu Zagati, pela inspiração.
Que me desculpe a censura: Nós somos foda!