Conheça a história da festa de Corpus Christi: uma tradição católica de fé e arte efêmera
“Corpus Christi”, expressão em latim que significa “corpo de Cristo”, é uma celebração móvel no calendário católico que comemora o milagre da transubstanciação. Para os católicos, durante a missa, o pão (hóstia) se transforma no corpo de Cristo, e o vinho se converte em seu sangue. Esta festa, uma das procissões mais grandiosas em Portugal, foi trazida ao Brasil pelos colonizadores no século XVI.
Em 9 de agosto de 1549, o padre Manuel da Nóbrega descreveu em carta uma procissão de Corpus Christi realizada no Brasil, porém a tradição de enfeitar as ruas para a procissão começou em Ouro Preto, Minas Gerais, e no sul do Brasil chegou com os imigrantes açorianos. Nas cidades que preservam essa tradição, as ruas são ornamentadas com tapetes de serragem tingida, palha, borra de café, areia e grãos.
A História de Corpus Christi
A festa de Corpus Christi é uma das mais antigas do catolicismo mundial, instituída pelo Papa Urbano IV em 1264. Ela é celebrada na quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade, que ocorre no domingo seguinte ao de Pentecostes. A origem da festa está ligada às visões da freira Juliana de Mont Cornillon.
Nascida em Retines, perto de Liège, Bélgica, em 1192, Juliana ficou órfã ainda jovem e foi educada pelas freiras agostinas em Mont Cornillon. Aos 17 anos, começou a ter visões de uma lua cheia com uma mancha escura, que a Igreja interpretou como a ausência de uma festa dedicada à Eucaristia no calendário litúrgico. A Eucaristia é o sacramento católico que, através das palavras do padre, promove a transubstanciação, transformando o pão e o vinho no corpo e sangue de Cristo.
Assim, a celebração de Corpus Christi continua a ser uma expressão de fé profunda, marcada por sua rica história e pelas elaboradas manifestações artísticas nas ruas das cidades que mantêm viva essa tradição secular.
O Papa Urbano IV, naquela época, tinha a corte em Orvieto, um pouco ao norte de Roma. Muito perto desta localidade está Bolsena, onde em 1263 ou 1264 aconteceu o Milagre de Bolsena: um sacerdote que celebrava a Santa Missa teve dúvidas de que a Consagração fosse algo real., no momento de partir a Sagrada Forma, viu sair dela sangue do qual foi se empapando em seguida o corporal. A venerada relíquia foi levada em procissão a Orvieto em 19 junho de 1264. Hoje se conservam os corporais -onde se apóia o cálice e a patena durante a Missa- em Orvieto, e também se pode ver a pedra do altar em Bolsena, manchada de sangue.
O Santo Padre movido pelo prodígio, e a petição de vários bispos, faz com que se estenda a festa do Corpus Christi a toda a Igreja por meio da bula “Transiturus” de 8 setembro do mesmo ano, fixando-a para a quinta-feira depois da oitava de Pentecostes e outorgando muitas indulgências a todos que asistirem a Santa Missa e o ofício.
Em seguida, segundo alguns biógrafos, o Papa Urbano IV encarregou um ofício -a liturgia das horas- a São Boa-ventura e a Santo Tomás de Aquino; quando o Pontífice começou a ler em voz alta o ofício feito por Santo Tomás, São Boa-ventura foi rasgando o seu em pedaços.
A morte do Papa Urbano IV (em 2 de outubro de 1264), um pouco depois da publicação do decreto, prejudicou a difusão da festa. Mas o Papa Clemente V tomou o assunto em suas mãos e, no concílio geral de Viena (1311), ordenou mais uma vez a adoção desta festa. Em 1317 é promulgada uma recopilação de leis -por João XXII- e assim a festa é estendida a toda a Igreja.
Nenhum dos decretos fala da procissão com o Santíssimo como um aspecto da celebração. Porém estas procissões foram dotadas de indulgências pelos Papas Martinho V e Eugênio IV, e se fizeram bastante comuns a partir do século XIV.
A festa foi aceita em Cologne em 1306; em Worms a adoptaram em 1315; em Strasburg em 1316. Na Inglaterra foi introduzida da Bélgica entre 1320 e 1325. Nos Estados Unidos e nos outros países a solenidade era celebrada no domingo depois do domingo da Santíssima Trindade.
Na Igreja grega a festa de Corpus Christi é conhecida nos calendários dos sírios, armênios, coptos, melquitas e os rutínios da Galícia, Calábria e Sicília.
Finalmente, o Concílio de Trento declara que muito piedosa e religiosamente foi introduzida na Igreja de Deus o costume, que todos os anos, determinado dia festivo, seja celebrado este excelso e venerável sacramento com singular veneração e solenidade; e reverente e honorificamente seja levado em procissão pelas ruas e lugares públicos. Nisto os cristãos expressam sua gratidão e memória por tão inefável e verdadeiramente divino benefício, pelo qual se faz novamente presente a vitória e triunfo sobre a morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Com informações da ACI Digital