Delator revela detalhes do falso atentado contra ex-prefeito Aprígio em Taboão da Serra
Gilmar Santos informou que desistiu três vezes do plano "por sentir que algo daria errado"
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Delator Gilmar de Jesus Santos durante entrevista ao Fantástico, da TV Globo, com o portal g1
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O delator Gilmar de Jesus Santos, que firmou um acordo de delação colaborativa com as autoridades que investigaram um suposto atentado contra o então prefeito de Taboão da Serra, José Aprígio (Podemos), revelou que o crime foi forjado. Ele também forneceu aos investigadores detalhes sobre o caso, as revelações foram feitas durante entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo.
No depoimento, Gilmar contou que foi contratado por Aprígio e seu grupo político para criar uma encenação que o ajudaria a se reeleger. Ele explicou que o plano era simular um atentado para gerar repercussão e sensibilizar eleitores, e quem sabe ele poderia reverter o resultado adverso e vencer as eleições. Mas Aprígio foi derrotado no 2º turno.
“O combinado era dar um ‘susto’ que chamasse a atenção da mídia, que fosse parar no Fantástico. O prefeito sabia de tudo”, afirmou o delator.
O ataque forjado aconteceu em 18 de outubro de 2024, quando Aprígio, então candidato à reeleição, foi atingido de raspão no ombro esquerdo por estilhaços de uma bala de AK-47. Seis disparos perfuraram a blindagem do carro em que ele estava.
Gilmar, que está preso, afirmou que avisou ao grupo envolvido que o fuzil utilizado poderia perfurar a blindagem do carro. “Eu avisei que o fuzil atravessava blindagem. Se era só para chamar atenção, havia risco de alguém ser atingido”, relata o delator, que diz ter desistido do plano três vezes por pressentir que algo daria errado. “Senti algo ruim, que algo ia dar errado.”
Ele contou que, com Odair Júnior de Santana, disparou contra o veículo onde estavam Aprígio e outras três pessoas. O ataque foi simulado com um carro vermelho.
Segundo Gilmar, as conversas entre os envolvidos eram intermediadas por Anderson da Silva Moura, o “Gordão”, e Clóvis Reis de Oliveira. O pagamento pelo serviço seria de R$ 500 mil, valor que, segundo ele, foi fornecido pelo próprio Aprígio e seria divido entre quatro pessoas, ele e mais três, e que se Aprígio vencesse as eleições ele teria uma colocação na administração.
Gilmar admitiu que aceitou participar do plano porque esperava conseguir um cargo público caso Aprígio fosse reeleito. “Não queria prejudicar ninguém, só queria ser beneficiado de alguma forma. Meu interesse não era o dinheiro e, sim, um trabalho.”
Ex-prefeito sabia da farsa
A ideia de usar um fuzil teria partido do ex-prefeito. “Ele queria que parecesse real. Eu sugeri atirar no capô para evitar ferimentos, mas ele insistiu que fosse na lateral”, contou Gilmar.
Além disso, ele afirma que Aprígio entregou R$ 85 mil a secretários para o dinheiro chegar aos intermediários, responsáveis por comprar a arma usada.
“O fuzil era um AK-47, com dois carregadores: um com quase 50 balas e outro com 30”, detalhou o delator. Ele também assume ter disparado contra o pneu do carro. “Quando vi os primeiros tiros atingindo o vidro, tomei o fuzil e fiz o disparo. Depois fui embora.”
O motorista, um secretário e um cinegrafista que estavam no veículo saíram ilesos. O cinegrafista chegou a gravar imagens de Aprígio ferido, e, em menos de 30 minutos, um vídeo editado do suposto ataque já circulava nas redes sociais e na imprensa.
“O videomaker, em vez de tentar socorrer o prefeito, que seria a coisa mais natural no mundo, ele se preocupa em fazer o quê? Filmar”, destacou o delegado Hélio Bressan, que foi o responsável pela investigação.
Investigação
Além do ex-prefeito, 15 pessoas são investigadas por envolvimento no falso atentado, incluindo secretários municipais e o sobrinho de Aprígio, Cristian Lima Silva.
Cristian Lima da Silva já havia sido acusado de inventar um ataque a tiros em 2020, em Alagoas, para favorecer a candidatura do pai à prefeitura de Minador do Negrão.
Se for comprovado o envolvimento de todos, os investigados podem responder por associação criminosa, tentativa de homicídio, incêndio e adulteração de placa de veículo. As penas podem chegar a 30 anos de prisão.
Após o falso atentado, Gilmar e Odair queimaram o Nissan March usado na ação. “Odair jogou gasolina e eu botei fogo”, contou Gilmar. O carro foi incendiado em Osasco.
Vantagem política
O objetivo da simulação, segundo a polícia, era reverter a desvantagem de Aprígio no primeiro turno das eleições municipais em Taboão da Serra. Apesar disso, ele perdeu o pleito de 27 de outubro para Engenheiro Daniel (União Brasil).
Nas redes sociais, Aprígio chegou a divulgar que havia fraturado a clavícula no suposto atentado, e as imagens viralizaram.
Após o ocorrido, no hospital, o então prefeito Aprígio e candidato à reeleição, expressou gratidão aos seus apoiadores: “Graças a Deus que eu tenho o apoio da minha família, de vocês, das igrejas que estão orando por mim, da minha família, mas dói muito.”
“No início, ele [Aprígio] era tratado como vítima, mas as provas indicam que ele estava ciente do atentado forjado”, explicou o promotor Juliano Atoji.
O atual prefeito de Taboão da Serra, Engenheiro Daniel (União Brasil) disse ter certeza de que foi um atentado forjado. Ele desabafou após uma entrevista coletiva.
Investigação
Durante a operação Fato Oculto, que aconteceu dia 17 deste mês em Taboão da Serra, foram apreendidos mais de R$ 300 mil na casa de Aprígio. Ele não foi encontrado para comentar o caso. O advogado dele, Alan Mohamed Melo Hassan, alega que o ex-prefeito é inocente e que não teve nenhum envolvimento com o atentado.
“Não é crível você pensar que uma pessoa de 73 anos estaria sujeita a receber um tiro de fuzil achando que talvez pudéssemos modificar um certame eleitoral. Eu tenho convicção de que ao final será demonstrado não só para ele, mas para os seus familiares e toda a sociedade que ele é a vítima nessa história”, disse Alan Mohamed Melo Hassan.
Os réus Gilmar, Odair e Jefferson Ferreira de Souza tiveram prisão temporária decretada, mas Odair e Jefferson estão foragidos. Anderson e Clovis ainda não foram denunciados, mas o primeiro está preso, enquanto o segundo segue foragido.
A perícia analisa os celulares apreendidos dos investigados e o fuzil utilizado no crime ainda não foi localizado.
Outros acusados, como os ex-secretários municipais, negam participação e alegam erro nas investigações.
As defesas de alguns envolvidos afirmam que a acusação se baseia somente na delação de Gilmar, sem provas concretas como registros telefônicos ou imagens que comprovem a participação no crime.
A reportagem tenta contato com defesa dos investigados.