Do front ao parlamento: a incrível história do ex-vereador de Taboão da Serra, Vacílio Ganacevich
Quando Vacílio Ganacevich se viu cercado pelos soldados armados do ditador Mussolini, em plena segunda guerra mundial, pensou que ali seria seu fim. Vacílio foi um dos voluntários que se alistou para lutar ao lado das forças aliadas no maior conflito da história. Após sete meses de treinamento no Rio de Janeiro, ele e mais 79 brasileiros foram para a guerra.
Vacílio havia nascido na Romênia, no Leste Europeu, em 1910. Logo após seu nascimento, sua família mudou-se para a Rússia, onde moraram até 1918, quando foram explusos pelos soldados alemães durante a primeira grande guerra. Sem saber onde iriam parar, entraram num grande navio de cargas e acabaram aportando no Brasil.
Quando o Brasil anunciou que iria entrar na guerra junto aos aliados, Vacílio foi um dos primeiros a se apresentar como voluntário. Aos 34 anos, ele era Guarda Civil em São Paulo, e nem imaginava o que enfrentaria dali por diante. Mesmo assim resolveu seguir em frente e desembarcou na Itália, bem no meio do conflito.
Sua função ali era uma das mais arriscadas, dirigindo um velho caminhão disfarçado, tinha que buscar civis que estavam no meio do conflito e leva-los para uma área segura. Numa dessas viagens foi pego numa emboscada e se viu diante dos soldados italianos. Um morteiro disparado pelo exercito inimigo acabou matando seu companheiro que estava em outro caminhão.
Com o final da guerra, Vacílio voltou ao Brasil como herói. Promovido a Tente Coronel foi coordenar a Guarda Civil em Presidente Prudente, onde acabou conhecendo sua esposa, Percilia Garcia, sua companheira até sua morte. Em 1957 um convite mudaria novamente sua vida.
Chamado para organizar um evento na desconhecida vila de Taboão da Serra, no sítio da Guarda, Vacílio se encantou pelo lugar e pediu imediatamente sua transferência. Amigo pessoal do então Governador de São Paulo, Jânio Quadros, seu pedido foi atendido. Os poucos moradores da então vila estavam se preparando na mesma época para dar uma grande cartada: queriam a emancipação de Taboão da Serra.
Durante esse tempo, Vacílio fez amizades e se tornou uma das lideranças da cidade recém emancipada. Em 1959, gozando de grande popularidade, saiu candidato a prefeito. Porém, a história não lhe reservou a honra de ser o primeiro chefe do executivo. Perdeu para Nicola Vivilechio.
Na eleição seguinte, em 1963, saiu candidato a vereador e desta vez saiu-se vitorioso. Mas o destino não estava contente, ainda iria pregar-lhe algumas peças. Vacílio foi o primeiro vereador de Taboão da Serra a ser cassado pela Câmara. Homem cunhado na disciplina do militarismo acabou brigando com os outros oito vereadores por causa de uma verba que os parlamentares queriam aprovar para terem um auxilio em dinheiro pela função que exerciam, mas, na época, não eram remunerados.
Vacílio usou todos os recursos disponíveis na época para “alertar” a população da medida tomada pelos vereadores. “O Vacílio achava que essa verba era para que nós cortássemos o cabelo e comprássemos ternos, mas na verdade nós queríamos era poder ajudar a população que vivia nos pedindo ajuda até mesmo para comprar remédios”, lembrou Ary Dáu, que era o presidente da Câmara Municipal na época, em entrevista ao Portal O Taboanense.
Ele foi cassado por falta de decoro parlamentar em 27 de janeiro de 1965. “A gente chegou a pedir que ele se desculpasse em público, mas ele se negou diversas vezes a fazer isso, ele era muito teimoso”, afirmou Ary Dáu.
Um mandado de segurança expedido pelo juiz alguns dias depois colocou novamente Vacílio na Câmara Municipal. Segundo sua esposa, ele reassumiu seu mandato durante a Sessão Ordinária, pediu o uso da palavra e ali mesmo renunciou ao cargo. Nunca mais Vacílio participou de nenhuma forma da vida política de Taboão da Serra. Meses depois, uma visita ilustre pararia a cidade: O ex-presidente (que também acabara de renunciar) Jânio Quadros foi até sua casa para saber o motivo da sua cassação. Vacílio Ganacevich faleceu em 1994.