E a vida se esvai como um suspiro
Por Eduardo Toledo
Sempre que perdemos alguém que amamos, paramos para refletir como a vida é descartável, assim como a edição de um jornal. Tudo é perene, a validade das coisas não são mais medidas em anos, mas sim em dias, horas e segundos. Hoje, infortúnio de jornalista, fui cobrir a morte de um amigo, um companheiro que lutava ao meu lado, na mesma trincheira.
A velocidade imposta em informar, imposta pelos jornais e sites, fez com que nós, jornalistas, perdêssemos o olhar mais crítico, mais contemplador e, infelizmente, acabamos utilizando artifícios que nos obrigam a produzir rapidamente, sempre procurando a rapidez em detrimento da qualidade, dos detalhes. Sinais do tempo: a vida já não anda, corre.
Mas, em um dia como esse, onde um amigo, orgulho de uma classe, homem de bem, pioneiro em uma terra sem história, se vai, abrimos espaço na loucura do dia-a-dia para chegarmos à conclusão de que por mais que possamos correr, não vamos chegar a lugar nenhum. E a vida… A vida se esvai como um suspiro, como um jornal, um texto leve, uma idéia que passa e deixa saudade para quem fica.
Em doze anos de jornalismo me sinto um menino ainda. Nunca passei da fase de ser um foca, um repórter que, invariavelmente, fica ansioso diante de um furo ou notícia exclusiva. O jornalista gravita em outra órbita, vibra em outra freqüência, precisa estar sempre um passo a frente e não pode perder nunca a vontade de informar, de contar, de mostrar, de ser o primeiro a dar aquela notícia.
E, como a profissão obriga, mesmo sendo um dia triste, precisei escrever sobre a morte. Sobre a morte de uma pessoa querida, que abriu espaço para mim no começo da minha carreira. Talvez por ingratidão, preferia não ter que escrever hoje, mas no jornalismo o agora é o ápice do tempo e a notícia precisa ir para o prelo.
“Morreu Nilson Latorre”. Assim anunciei em uma manchete que evitava dúvidas. Não queria ser mal entendido, por isso fui objetivo. E não poderia ser diferente. O diagnóstico, por mais surpreendente que me parecia, era de verdade. Ali, naquela notícia crua e mal escrita, acabava uma boa parte da história de Taboão da Serra.
A partir de agora os sábados não serão mais os mesmos, pois a alegria com que o jornal O Cidadão era colocado nas bancas, depois de uma semana longa, desgastante e extenuante já será diferente. O comandante não estará mais lá.
E os domingos? Quantas e quantas vezes não me peguei tomando um chope no Westfallen, lá em Itapecerica, ao lado de Dr. Nilson que me olhava sempre com um sorriso de menino no rosto? E as tardes quentes de sexta, quando o balcão da Rainha do Taboão era pequeno para tanta vida, tanta alegria que efervescia daqueles copos que insistiam em subir a boca, que ficava cansada de tanto gargalhar com os desencontros que o destino, pobre coitado, ainda insistia em tentar nos pregar?
Os fins de semana terão outras cores, outros sons e cheiros. Tudo muda a toda hora e nós não podemos fazer nada para que tudo continue como antes. “Morreu Nilson Latorre”. Dá pra acreditar? Taboão não perdeu apenas um filho, mas um cidadão… O Cidadão. E o dia ainda insiste em amanhecer…
Eduardo Toledo, é jornalista e fotógrafo. Trabalha como assessor de imprensa da Câmara Municipal e escreve para o Portal O Taboanense