Embu das Artes: Solano Trindade é homenageado no Museu da Imagem e do Som
Solano Trindade em Embu das Artes, registro feito em 1976
Bruno Bocchini, da Agência Brasil
O Museu da Imagem e do Som (MIS) está homenageando em novembro, mês da Consciência Negra, 81 personalidades negras em uma megaexposição coletiva de grafites. Entre os homenageados está o poeta de Embu das Artes, Solano Trindade, um dos maiores nomes da cultura regional.
As obras, realizadas por 81 artistas da periferia de cidades paulistas, estão expostas na sede do museu. Reproduções dos trabalhos estão espalhadas por quase uma centena de espaços culturais paulistas, como o Museu Afro Brasil, o Memorial da América Latina, e as Fábricas de Cultura.
A exposição faz parte da programação da Virada da Consciência Negra, composta por 220 atividades nos museus, bibliotecas, teatros, Fábricas de Cultura e instituições da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
“[A nossa intenção é] dar grande visibilidade aos artistas negros e suas obras de maneira a evidenciar a imensa contribuição que esses artistas deram para a cena cultural do nosso país ao longo do tempo. A ideia foi realizar atividades que sejam capazes de dar esta visibilidade, que é uma visibilidade mais do que merecida, mais do que justa”, destacou o secretário de Cultura e Economia Criativa, Sérgio Sá Leitão, em entrevista a Agência Brasil.
“[Propusemos] atividades que estimulem o público a refletir sobre esse mal que é o racismo, que infelizmente ainda persiste na sociedade brasileira, e é um mal que precisa ser extirpado, que precisa ser combatido. A ideia é que essas atividades convidem a população a pensar e refletir sobre a questão do racismo, mas com este sentido, de gerar indignação em relação ao racismo e gerar o repúdio ao racismo”, acrescentou.
Entre as personalidades negras homenageadas está Emanoel Araújo, fundador, diretor e curador do Museu Afro Brasil, falecido no último dia 7 de setembro, reconhecido por defender, valorizar e dar visibilidade à produção afro-brasileira nos mais diversos campos. Também é homenageada a cantora Elza Soares, falecida no início do ano, e referência da música negra.
Grafite
De acordo com o secretário, a escolha do grafite se deu em razão da representatividade desse tipo de arte. “O grafite é essencialmente uma linguagem artística urbana que nasce nas favelas e periferias e ganha o Mundo em que a grande maioria dos artistas é negra. Então portanto é uma manifestação ou é uma linguagem de artes visuais que está muito associada a contribuição da comunidade negra para a arte e a cultura do nosso país”.
A escolha dos homenageados foi realizada pelo Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra (CPDCN) do estado de São Paulo, primeiro órgão do país criado para a defesa dos direitos da comunidade negra e enfrentamento ao racismo. De acordo com a Secretaria de Cultura do estado, as 81 personalidades negras foram selecionadas em razão da sua trajetória e biografia.
A história de cada um dos homenageados pode ser lida aqui. A exposição ocorre, no MIS (Avenida Europa, 158) até 29 de janeiro de 2023, de terça a sexta das 11h às 19h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h;. O ingresso é gratuito.
Solano Trindade
Poeta, folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante do Movimento Negro e Partido Comunista. Morou e trabalhou em Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Embu das Artes.
Filho do sapateiro Manuel Abilio Trindade e de Emerenciana Maria de Jesus Trindade, foi operário, comerciário e colaborou na imprensa.
Nasceu no bairro São José em Recife, estudou no Colégio Agnes Americano, onde fez o curso de teatro. Casou-se, em 1935, com Margarida Trindade com quem teve quatro filhos. Em 1934, idealizou o I Congresso Afro-Brasileiro no Recife, e participou em 1936 do II Congresso Afro-Brasileiro em Salvador, Bahia.
Nos anos 1940, mudou-se para o Rio de Janeiro e logo depois para São Paulo, onde passou a maior parte de sua vida, convivendo com artistas e intelectuais. Participou de um grupo de artistas plásticos com Sakai de Embu onde integrou com grande empenho na produção artística especialmente a cultura negra e as tradições afro descendentes. O poeta foi homenageado com o nome de uma escola situada na região central do município.
Trabalhou no filme “A hora e vez de Augusto Matraga” de Roberto Santos. A produção poética ficou registrada num livro organizado pela filha Raquel Trindade, em 1999. Sua poesia reflete a realidade social, a identidade racial e o compromisso de resgatar as tradições culturais do povo.
A produção e encenação de seus espetáculos ligados à cultura popular com o Grupo Teatro Popular Brasileiro marcou presença, dando origem ao Teatro Popular Solano Trindade, em Embu das Artes, onde sua família mantém viva a memória e a obra do poeta.