Futebol de várzea homenageia Zé do Gás em Taboão da Serra, dia 25
Zé do Gás foi homenageado pela Várzea taboanense
David da Silva
“Ele tinha uma impulsão magnífica, cobrindo muito bem a zaga”. Foi com essa fama que José Sinopoli, o Zé do Gás, deixou seu nome gravado na história do futebol amador. Um dos melhores quarto-zagueiros dos anos 60 na várzea paulistana, Zé do Gás, falecido em junho do ano passado, será homenageado neste domingo, 25 de março, na finalíssima da 7ª Copa Verão Master de Futebol em Taboão da Serra.
Em seus 77 anos de vida, Zé do Gás passou a maior parte do tempo trabalhando por conta própria. “Mas meu pai nunca foi dono de depósito de gás”, diz Adriana Sinopoli, rindo de uma notícia errada divulgada no falecimento. “Ele comercializou bichinhos de pelúcia por vários anos quando era solteiro, vendeu uva na rua (o bordão era: “Olha as uvas do Marengo!”) e teve empresa de serviços de limpeza até se aposentar em 2013”, conta a filha.
O apelido veio da época em que José Sinopoli, aos 18 de idade, trabalhou no escritório da distribuidora Gasbrás. Uma insuficiência renal no dia 27 de junho de 2017 pôs fim a uma existência iniciada em 29 de janeiro de 1940 no bairro paulistano do Bixiga.
Quando José estava com 10 a 11 anos, a família Sinopoli mudou-se para a Vila Madalena. Ali o rapaz passou toda a sua infância e juventude, até casar-se aos 33 anos de idade com Áurea, moça também criada naquele bairro.
Na segunda metade da década de 1970, Zé do Gás veio morar em Taboão da Serra, onde tornou-se dirigente do Sossego FC, time fundado em 1989 por Ricardo Piñero, o Doriana, e Aliberto, o Libão, e que Zé do Gás presidiu desde 1996 até a sua morte.
Época mágica
“Eu, Zé do Gás, fico grato em ver que esta época tão mágica ainda está viva”. Com essas palavras o lendário quarto-zagueiro agradeceu quando foi procurado por um documentarista em 2012, para relembrar fatos e coisas do Leão do Morro, time onde ele eternizou seu nome.
O Leão do Morro foi uma referência numa época e numa região recheada de outras referências como Serepi (Sociedade Esportiva Recreativa Pinheirense), e o “Brasil” que jogava no terreno onde hoje é o Shopping Center Eldorado. Pelos lados da Vila Madalena e Vila Beatriz reinavam, além do Leão do Morro, o Sete de Setembro e o Primeiro de Maio (que nasceu com o nome Esporte Clube União Operária).
Os campos de terra eram na Rua Jericó, onde há hoje a E.E. Maximiliano e o Fórum de Pinheiros, e na esquina da rua Natingui, onde hoje é o conjunto habitacional do BNH.
Zé do Gás e o seu Leão do Morro foram campeões da várzea em 1962 contra o Botafogo da Vila Carrão, um verdadeiro duelo leste-oeste no Torneio dos Clubes Unidos promovido pelo extinto jornal Última Hora.
No mesmo torneio, em 1964 o Leão foi vice-campeão.
Em 1969 o Leão do Morro voltou a ser campeão, vencendo por 3×2 o Brasil de Pinheiros. A partida foi transmitida pela Rede Globo.
Apesar da distância do tempo, nos encontros de velhos ex-boleiros no bar Calçadão da Vila, na rua Wisard, ainda ecoam por entre as conversas os nomes de craques com quem Zé do Gás compartilhou as glórias como: Dorinho, Miura, Carminho, Elinho, Zé Negão, Sabiá, Delem, Roberto, Palito, Zinho, Mingo, Paulinho, Café, Didi, Abilio, Casado, o técnico Bonecão e o diretor Álvaro barbeiro.
De bem com a vida
Mesmo em seus momentos mais reservados, Zé do Gás não tinha baixo astral. “Ele ficava lá na dele, curtindo os discos antigos”, relata Adriana.
O gosto pelos sambas do João Nogueira ficou patenteado em uma carta, verdadeiro réquiem que Zé do Gás escreveu na madrugada em que seu ídolo morreu (veja reprodução nesta página).
Todos os anos, em uma celebração à vida, ele se reunia com a equipe médica do Hospital São Paulo que lhe fez o transplante de fígado em 2002, após três anos na fila de espera.
Dos colegas de campo mais antigos, Zé do Gás manteve uma amizade praticamente de vida inteira com o meia-esquerda Dorinho. Quando jovens, atuavam pelo mesmo time Leão do Morro, e também viajavam muito vendendo bichinhos de pelúcia. Mais velhos, moraram na mesma cidade de Taboão da Serra.
Em dezembro de 2005 Dorinho telefonou para Áurea, esposa do amigo Zé do Gás: “Oi Aurinha, estou ligando pra desejar Feliz Natal, porque no ano que vem não sei se vou estar aqui”. Quando dona Áurea respondeu que ninguém sabe, Dorinho foi enfático: “Eu sei que não estarei”. De fato, Theodoro Júdica Junior, o Dorinho, faleceu em 26 de dezembro de 2006, dois dias antes de completar 66 anos.
O fato de Dorinho chamar dona Áurea de “Aurinha”, lembra o hábito de Zé do Gás tratar a família por hipocorísticos – a esposa era “Lalinha”, a filha: “Cuca”, e o filho Raphael: “Amigão”.
Como bom descendente de italianos, Zé do Gás era bom de garfo e cheio de jargões. Seus pratos prediletos eram dobradinha, leitão à pururuca e quibe cru. Suas conversas eram recheadas de expressões como “na encolha”, “na miúda”, “cheio de fita”, “cheio de história”, “papo furado”, “quás-quás-quás”, “pororóóó…”, e o seu infalível “tá por fora!!!”.
Exaltação da várzea
Jogadores de futebol amador são heróis do subúrbio. É praxe dos varzeanos exaltarem seus antepassados.
Na rodada final da 7ª Copa Verão os times finalistas entrarão em campo vestindo uma camiseta-tributo com a face de Zé do Gás sobre a farda.
A copa, que está na sua sétima edição, é organizada pela Liga Esportiva Joga Senhor com apoio da Prefeitura de Taboão da Serra.
A finalíssima terá caráter intermunicipal, e vai ser disputada pelo Fortaleza (Taboão da Serra) e o Santa Emília (Embu das Artes), os dois com as defesas menos vazadas da copa, com 7 e 8 gols respectivamente. A competição tem até o momento na artilharia Rivelino (13 gols) e Mauro César (7 gols) ambos do Santa Emília. O terceiro artilheiro (6 gols) é Junior César, do Fortaleza. O jogo começa às 9h30 precedido pela disputa do 3º lugar (Grêmio Marabá x AAPP, às 7h30) no campo do Jardim Guaciara, na Estrada das Olarias, 519.