Mais de 2 mil famílias são removidas de terreno no Laguna
Famílias sem-teto ocupavam terreno de 136 mil m² desde o mês de junho
Matheus Herbert
Na manhã desta quinta-feira, mais de 2 mil famílias foram removidas de área particular do Parque Laguna em Taboão da Serra. Os sem-teto ocupavam o terreno de 136 mil m², na avenida Castelo Branco, considerado de patrimônio ambiental desde o final de junho e no mês passado a Justiça de São Paulo decretou a reintegração de posse da área.
A Gazeta acompanhou na manhã desta quinta-feira o processo de reintegração, iniciado por volta das 5h50. A retomada da área foi realizada de forma pacífica entre as lideranças da ocupação e a Polícia Militar (PM) e Guarda Civil Municipal de Taboão da Serra (GCM). A Polícia Rodoviária Federal (PRF) também auxiliou nos trabalhos. “Infelizmente não tivemos apoio de ninguém e nem da Prefeitura de Taboão da Serra. Prevíamos que uma hora o dono iria pedir o terreno e isso iria acontecer, agora é procurar um outro lugar para ficar com a minha família. Cheguei aqui na terra em junho com os meus dois filhos e simplesmente não sei para onde vou”, disse a desempregada de 43 anos, Dinalva Reis.
Após a chegada da polícia, as lideranças da ocupação pediram um pouco mais de tempo para que as famílias conseguissem remover os móveis e demolir os barracos. “Pedimos para as autoridades mais tempo para o pessoal conseguir se organizar e sair da terra com tranquilidade. A polícia respeitou e atendeu nosso pedido. Temos a ideia de irmos para uma outra área que fica na divisa entre Taboão da Serra e Embu das Artes”, disse um dos líderes da ocupação, Leandro Cavalca.
Ainda segundo o líder, a ideia até quarta-feira era resistir à reintegração. “Tínhamos a ideia de resistir à polícia e ao pedido de reintegração, porém existem muitas famílias, crianças e com certeza isso não terminaria bem. Resolvemos no diálogo”, complementou Cavalca. “Confesso que estou perdida, sem saber para onde vou já que não tenho família em São Paulo. Cheguei nessa ocupação em julho e aqui todos se ajudavam. Não tenho nada apenas um micro-ondas”, disse a desempregada Ana Cristina Santos de 45 anos.
Por volta das 7h45 muitas famílias já haviam deixado a área, enquanto outras ainda demoliam os barracos. “Organizei tudo que eu podia e vou levar o pouco que eu tenho. Estamos nos organizando com outras famílias para remover os móveis e eletrodomésticos. As madeiras do barraco vão ficar aqui, não vou levar nada”, disse o pedreiro de 53 anos, Perreira Mattos de 56 anos.
Procurada, a Prefeitura de Taboão da Serra informou através de nota que “a reintegração de posse do terreno na região do Parque Laguna ocorreu de forma pacífica e sem registro de conflitos. A área particular, pertencia à Família Basile e recentemente foi vendido a uma empresa. O local fica em uma área de divisa entre Taboão da Serra e capital paulista”.
Questionada se a Administração oferecerá alguma assistência para as famílias, a prefeitura complementou dizendo que “não dispõe de áreas públicas para oferecer assistência a estas famílias. Por isto, a Secretaria Municipal de Habitação fez um ofício ao Governo do Estado de São Paulo solicitando atendimento em caráter emergencial para pelo menos 30 famílias. A Secretaria de Assistência Social e Cidadania está de plantão no local com equipes do Conselho Tutelar e do CRAS (Centro de Referência em Assistência Social) e solicitou 50 bolsas famílias em caráter emergencial”.
Protestos
Na tarde de quarta-feira as famílias realizaram um protesto contra a reintegração na altura do quilômetro 272 da rodovia Régis Bittencourt, na pista sentido sul. A concessionária Autopista Régis, que administra a via, informou que por volta das 16h havia cerca de cinco quilômetros de congestionamento.
Ainda no começo deste mês, as mesmas famílias haviam realizado um protesto em frente ao fórum de Taboão da Serra para tentar adiar a reintegração do local.
Ocupação
A Gazeta acompanha a ocupação desde o final de junho, onde cerca de 300 famílias viviam no local. Em menos de dois meses o número saltou para mais de 1.500 famílias sem-teto no local.
Os moradores viviam em barracos improvisados de lona, porém entre em outubro já era possível ver moradias de madeira e de alvenaria.