Moradores de Taboão da Serra lamentam perdas por causa da chuva
Prefeito Evilásio conversa com moradora no Largo do Taboão
Os estragos provocados pela chuva que caiu pela madrugada foram muito além dos alagamentos registrados em diversos pontos de Taboão da Serra. Em dezenas de ruas, moradores perderam eletrodomésticos, tiveram a casa invadida por ratos e sapos e muito trabalho para remover o excesso de lama e sujeira no dia seguinte.
Devido às precipitações intensas, as águas do córrego Pirajuçara (que divide São Paulo de Taboão da Serra) transbordaram e invadiram a área urbana ao redor, onde o relevo pouco acentuado é ponto de convergência para enchentes. Um levantamento prévio da Defesa Civil aponta treze pontos de alagamento na cidade.
Nas ruas mais atingidas, no centro da cidade, o nível da água ultrapassou um metro. Dona Vera Lúcia Cardoso contabiliza o prejuízo: armários, camas, sofás e a máquina de costura foram completamente inundados. As perdas são irrecuperáveis. Moradora da rua José Soares de Azevedo, uma das campeãs do lamaçal, ela lamenta que as enchentes tenham piorado desde as obras de construção do piscinão, iniciadas pela prefeitura de São Paulo, que reduziram ainda mais a capacidade de vazão. “Quero sair daqui, mas não tem quem compre esta casa, porque sabe que a área está condenada”, lamenta.
A insegurança não se encerra na imprevisibilidade das torrentes: deságua na preocupação da disseminação de doenças trazidas no leito do córrego. “Temo pela saúde em primeiro lugar, porque o que é material a gente recupera”, pondera Luciano Oliveira, poucos metros à frente de Dona Vera. A última grande enchente registrada, de 4 de abril do ano passado, deixou o saldo de uma parede a menos em sua casa. Esta, mais condescendente, causou rachaduras em outras. “Estamos arrumando as malas. Aqui não dá mais para ficar”.
Galerias e bueiros entupidos pelo lixo arrastado só aumentaram o trabalho de agentes da Defesa Civil, bombeiros e dos próprios vizinhos, que arregaçaram as mangas no calvário da limpeza. O trânsito ficou interrompido nas vias de acesso à zona sul de São Paulo: ruas do Carmo, Getúlio Vargas, Tereza Maria Luizetto, Santa Luzia e José Soares de Azevedo, no centro de Taboão.
Ainda nas primeiras horas da manhã, munidos de baldes, pás e mangueira, os vizinhos iniciaram a laboriosa etapa de desobstrução do entulho. Os mais pesados foram removidos por tratores e caminhões da prefeitura. O vice-presidente da Defesa Civil da Prefeitura José Avino diz que o único alento para a região resultaria de uma parceria entre prefeituras das cidades vítimas e o governo de São Paulo. “A solução é começar a desobstrução imediata dos canais e do piscinão. Para isso, precisamos juntar esforços humanos e financeiros”, salienta. Um encontro na terça-feira entre o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin selou um acordo de cooperação para a construção de mais um piscinão.
Em meio a situações-limite, a criatividade do brasileiro em recorrer a soluções alternativas novamente se sobressai. Dona Maria da Consolação, moradora do Parque Marabá, outro bairro conflagrado pela inundação, abriu dois buracos na parede para escoar a água do interior da casa. “Ou faço isso ou perco ainda mais meus eletrodomésticos”, declara.
Nas contas de Mário Júnior, morador do centro, esta é a décima enchente que enfrenta. “Nem comparo os estragos com os de abril, quando a água quase cobriu a casa por inteiro. Mas, sem dúvida, precisamos estar atentos, sobretudo à possibilidade de contaminação”, sinaliza, esguichando a fachada de casa. “Brigar com a força da natureza vale a pena? Quando tem que agir, resta à gente tentar sobreviver”, conforma-se.
Operação de limpeza
A Prefeitura realizou nos últimos meses a limpeza e desobstrução das calhas nos quatro córregos que cortam a cidade. Ao todo, incluindo o Pirajuçara, o Poá, o Joaquim Cachoeira e o Ponte Alta, mais de 19 km de extensão de rios por toda a cidade foram limpos. Outros locais e bairros afetados, como o Jardim Clementino, São Mateus, Scândia, Leme, Jardim Roberto, BR 116, Cidade Intercap e Córrego Ponte Alta já estão sendo assistidos por agentes da Defesa Civil.