Moradores prometem resistir a reintegração de posse de terreno ocupado no Pq. Laguna
Manifestantes fecham a rodovia Régis Bittencourt na última semana e prometem resistir a reintegração de posse do terreno
A reintegração de posse de um terreno particular no Pq. Laguna, marcada para acontecer nesta quinta-feira, dia 22, deve deixar mais de 3.000 famílias que invadiram o local sem ter para onde ir. Pelo menos esse é o apelo feito por um dos líderes do movimento, Marquinhos, que afirma que haverá resistência.
“O clima está muito tenso, muito tenso mesmo. As pessoas chorando, crianças chorando, está um desespero imenso, com certeza mais de 80% das pessoas ali não tem pra onde ir. Na [ocupação] Divina Luz, as famílias estão ali há mais de quatro anos, a maioria das casas são de alvenaria, as crianças matriculadas nas escolas. Tem uma vida no Taboão, tá muito difícil”, afirma Marquinhos.
Segundo ele, foram feitas diversas tentativas para que houvesse a abertura de um canal de comunicação com os proprietários do terreno, mas que não houve nenhum tipo de negociação. “Tem muitas coisas que não estão certas da forma que estão tocando esse processo. Falamos com o presidente da OAB que foi lá conversar com o juiz, mas não teve acordo, estão falando que vão tirar todo mundo de lá no dia 22”, disse.
Marquinhos disse que até mesmo o secretário de segurança pública do Estado, Mágino Alves Barbosa Filho, solicitou o adiamento da reintegração, mas a justiça manteve a data. “A gente ainda busca uma solução para brecar essa decisão de tirar as famílias, estamos conversando com alguns advogados”, garante.
Na semana passada, na saída para o feriado, manifestantes ligados às famílias que ocupam o terreno paralisaram a rodovia Régis Bittencourt, causando um grande congestionamento. Integrantes do movimento não descartam novos protestos. “A gente precisa chamar a atenção para essa situação, muitas famílias não têm para onde ir mesmo”, diz.
Marquinhos reclama também da assistência oferecida pela prefeitura. “A prefeitura não nos procurou nesse tempo todo, só a Assistência Social foi lá e fez um cadastro das crianças e idosos que estão lá, mas não falaram nada de auxílio aluguel ou de como podem nos ajudar, nada disso”.
Entenda o caso
A Justiça determinou para o próximo dia 22 de novembro, a reintegração de posse da área ocupada no Parque Laguna em Taboão da Serra que atualmente tem mais de 1.500 famílias que vivem na área que é considerada de preservação ambiental.
Na semana passada os sem-teto realizaram um protesto em frente ao fórum de Taboão da Serra para tentar adiar a reintegração do local. “O nosso objetivo é adiar a dará de reintegração de posse, que estava agendada para o dia 30 deste mês. Também tentamos junto com a prefeitura mudar o zoneamento da área para construirmos moradias, mas não temos nenhum posicionamento da prefeitura, que se comprometeu em nos ajudar”, disse um dos líderes da ocupação Leandro Cavalca.
No dia 24 de setembro, o prefeito da cidade de Taboão da Serra, Fernando Fernandes (PSDB) se reuniu com representantes da ocupação e prometeu que tentaria negociar com o proprietário da área uma solução ou buscar políticas públicas com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU).
Procurada nessa semana, a administração não informou quais as medidas estariam sendo tomadas em relação a ocupação.
Ocupação
Em julho, o terreno particular de 136 mil m² na avenida Castelo Branco abrigava cerca de 300 famílias, porém atualmente o número mais que quíntuplo. O terreno tinha sofrido processo de reintegração de posse em julho do ano passado e já tinha sido invadido outras vezes. As famílias se instalaram em barracas improvisadas de lona plástica, mas já é possível ver algumas barracas de madeira e alvenaria.
O crescimento da ocupação irregular é reflexo da crise econômica que o País passa e também do déficit habitacional da cidade, que sofre com a falta de terrenos para a construção de moradias e um adensamento populacional recorde. Hoje são 14.012 habitantes por km², em uma cidade com apenas 20,38 km². O déficit habitacional de Taboão é de mais de 10 mil famílias, de acordo com dados da prefeitura do ano de 2010.
Com informações da Gazeta de S. Paulo