Morre Joel Câmara, um dos maiores artistas do Embu
Por Márcio Amêndola
Um dos grandes artistas brasileiros, agora quase esquecido (uma enorme injustiça) é o desenhista, ilustrador, escritor e poeta Joel Câmara. Com problemas de memória e de visão –uma triste ironia– Joel estava fora de combate, internado indefinidamente num hospital de Itapecerica da Serra, à espera de abrigo numa casa de Idosos, quando faleceu no dia 15 de novembro de 2008, sendo sepultado no Cemitério do Rosário, de Embu, no dia seguinte, após velório na Capela de São Lázaro, idealizada por outro pioneiro das artes de Embu, Cássio M’Boy.
A filha mais próxima de Joel, e que cuidou dele nos últimos 10 anos, Patrícia e cinco netos do artista vivem na periferia de Itapecerica da Serra, com grandes dificuldades. Ela tenta resgatar algumas das obras de Joel, espalhadas pelo artista em galerias e lojas que não devolveram os originais após a doença que o afastou de sua arte.
Joel Câmara, da Escola Primitivista Brasileira teve seu trabalho singular marcado pela forte influência do desenho medieval e do Barroco mineiro, e sua presença foi ativa no mundo artístico nacional durante mais de 30 anos. Seus desenhos se caracterizam pelo uso exclusivo do nanquim (ou preto) sobre vários materiais, bico de pena sobre papel, couro, madeira ou pintura sobre parede lisa.
Joel chegou a Embu das Artes há muitos anos, sendo um dos artistas pioneiros da cidade, mas tem reconhecimento internacional.
Trafegando entre as artes plásticas e a literatura, Joel Câmara manteve-se ativo entre 1968 e 2005. Sua exposição individual pioneira foi em 1968, no SESC da Rua Dr. Vila Nova, em São Paulo, com a exposição “O Novo Testamento descrito e narrado à maneira do Sertão”. Uma de suas últimas exposições, “Os Dez Pecados Capitais” foi no restaurante Adjunto, em 2001.
Sua obra mais impressionante é, sem dúvida, o livro ilustrado, “A Guerra Santa do Sertão”. Segundo um de seus principais colaboradores, Francisco Aparecido Cordão, “nesta obra magnífica, Joel Câmara escreve e desenha, ao longo de noventa e duas ilustrações e noventa e dois textos, com a sensibilidade do bico de pena, sobre a revolta dos humilhados e dos homens ofendidos e aviltados em sua honra e brio, que são os trabalhadores da roça, os lavradores sem terra, os homens e mulheres do sertão, vítimas da insuportável infâmia do desamparo e do abandono. Com a Guerra Santa do Sertão, Joel Câmara busca resgatar a mensagem de esperança de Antonio Conselheiro aos desvalidos e desamparados de Canudos, a Canaã Cabocla, ressuscitando o sonho daqueles humildes sertanejos que ousaram ensaiar uma reforma agrária brasileira, até hoje reclamada e ainda não concluída”.
Além desta, Joel tem outras obras publicadas ou inéditas, entre as quais “Os dez pecados capitais”, “Gênesis, O Velho Testamento, o primeiro livro da Bíblia – O Bereshit dos antigos Hebreus”, “As Quatro Estações”, entre outras.
Afastado deste mundo, a nova ‘Guerra Santa’ de Joel Câmara e daqueles que admiram sua genialidade, é contra o abandono e o esquecimento. Este grande homem e artista ímpar deve e terá seu lugar na história da arte de Embu e deste País.