Política: Marcos Paulo surpreende, amplia oposição e é eleito presidente da Câmara de Taboão
Surpresa: Vereador Marcos Paulo vira o jogo e é eleito presidente da Câmara Municipal de Taboão da Serra
Rose Santana
O vereador Marcos Paulo (PPS) foi eleito presidente da Câmara Municipal de Taboão da Serra nesta terça-feira, dia 4. Politicamente o governo do prefeito Fernando Fernandes perdeu a presidência do Legislativo e viu a maioria governista se desfazer em uma disputa marcada pelas negociações dos bastidores.
O novo quadro político irá refletir diretamente na sucessão municipal de 2020. A partir de agora, as apostas estão abertas e o governo irá precisar buscar opções para colocar em votação projetos de interesse da administração, além de manter a governabilidade, mesmo tendo, em tese, sete vereadores contrários.
Na próxima terça-feira, dia 11, será colocado em votação o Orçamento Municipal. A “nova oposição” formada pelos vereadores do BI, além de professor Moreira, estuda apresentar (e aprovar) uma emenda que restringe em 5% a realocação de verbas entre secretarias, o que atrapalha e dificulta o planejamento de Fernando Fernandes para o próximo ano.
A eleição
Nesta terça-feira, dia 4, a presidente da Câmara Joice Silva iniciou a votação em ordem decrescente, colocando Waines Moreira Alves (professor Moreira) como o primeiro a abrir os votos. “Eleição é sempre um momento de reflexão. Sempre fui oposição, mas fiz um trabalho de respeito ao governo”, disse.
Moreira foi direto e deu as diretrizes da votação por parte dos vereadores contra Fernandes. Ele votou em Marcos Paulo para presidente; Carlinhos do Leme para vice; Érica Franquini como primeira secretária e em ele mesmo para segundo secretário.
Imediatamente após a declaração de voto do vereador Moreira, Ronaldo Onishi, candidato do governo, pediu artigo 103 fora do plenário, sinalizando que algo estava fora do combinado e que uma surpresa poderia ser colocada contra o governo.
Mesmo assim, após a pausa, a vereadora Rita de Cássia declarou seus votos, seguindo a decisão da base governista. Ela votou para segunda secretária em ela mesma, depois para primeira secretária votou em Priscila Sampaio e para vice-presidente em Johnatan Noventa. Para presidente ela manteve o nome de Ronaldo Onishi como o escolhido pela base.
Em seguida, a vereadora Érica Franquini usou a tribuna: “Tomamos nossas decisões, tivemos várias decepções, pessoas que achávamos que estavam ao nosso lado, mas não estavam e nos abandonaram. Érica manteve os mesmos votos da oposição, e disse: “Para presidente Marcos Paulo. Chegou a sua hora, quando Deus escolhe o homem não pode parar”.
A vereadora Priscila Sampaio foi a quarta a votar. Com um discurso que abordou a possibilidade do PRB, seu partido, impor que ela votasse em um candidato que não fosse o da base de governo, ela rechaçou qualquer interferência. “O voto é conquistado, não é imposto. Eu não sou uma carta na manga. É comigo que, nas próximas eleições da presidência, os vereadores têm que conversar”. Priscila também votou em Onishi. “Tenho certeza que o Sr. fará um bom mandato”.
O vereador Alex Bodinho, pivô do rompimento entre o prefeito Fernando Fernandes e o grupo denominado BI, votou em Marcos Paulo. Carlinhos do Leme foi o próximo a votar. Ele foi prático e com um discurso rápido, também garantiu o voto em Marcos Paulo, ampliando a vantagem.
Johnatan Noventa disse que iniciou sua trajetória política sendo um homem “de palavra e compromisso” e que seguiria com seus compromissos. Ele votou em Ronaldo Onishi para presidente. Cido foi o sétimo a votar, ele disse que “a política é uma arte, uma arte do diálogo, de se ouvir as pessoas”. Ele também votou em Onishi.
Candidato do governo, e favorito para ser eleito, Onishi subiu a tribuna e foi discreto, ele manteve seu voto em todos os cargos da mesa que seu grupo indicou e votou em si mesmo para a presidência. Sem alarde, deixou a tribuna para um uma nova situação que seria criada pelos vereadores do BI a partir daquele momento.
Eduardo Nóbrega confirmou que uma surpresa aconteceria nos próximos minutos. Ao agradecer a presença do pai, ex-vereador Olívio Nóbrega, ele disse: “Você participou da eleição mais emblemática do parlamento, que foi a do Orlandino, mas hoje nós superamos aquela geração”.
O vereador se referiu a virada na última hora na disputa que elegeu Orlandino presidente em 1995, quando Salvador Vicente Grisafi era dado como certo na presidência, mas foi derrotado após manobras nos bastidores. A tática usada foi a mesma, a oposição, em minoria, descarregou todos os votos em um candidato descontente com a administração. E saiu, como agora, vencedora.
Nóbrega votou em Marcos Paulo. “Vossa excelência, Marcos Paulo, travou comigo nesse plenário os maiores debates, aliás, que ultrapassaram a via das ideias e chegamos a vias de fato. Mas sempre de frente, nunca pelas costas. Você nunca teve um ataque rasteiro. Para quem acreditava que dois grandes guerreiros não pudessem se unir, vão ver como a história vai transcorrer em Taboão da Serra”.
Em seguida, o voto mais esperado. Marcos Paulo, que fazia parte da bancada de apoio ao prefeito Fernando Fernandes, e que teve sua candidatura preterida pela de Onishi dentro de seu grupo, foi à tribuna. “Quero lembrar das dificuldades que tivemos na eleição passada, fizemos alguns compromissos e ficou o compromisso que seria [o próximo presidente] eu ou o André Egydio”.
Marcos Paulo mostrou desconforto ao revelar como soube que haveria outra candidatura dentro do grupo. “Eu descobri que haveria a candidatura do vereador Ronaldo Onishi quando tivemos uma conversa com o deputado [federal] Marcos Pereira, pra mim foi uma grande surpresa. Ali eu descobri que dificilmente os compromissos seriam honrados”.
O vereador colocou diversas situações que o levaram a caminhar com outro grupo. “Tinha compromisso do vereador José Aparecido Alves, que não cumpriu comigo e não me deu justificativa. Tinha compromisso com a vereadora Joice Silva, que disse que estava chateada e por isso não votada mais em mim”.
Obviamente, Marcos Paulo votou em si mesmo e ficou dependendo apenas do voto de André Egydio para sua eleição. O vereador tucano foi para a tribuna, e fez um discurso forte. “Hoje é um dia para eu lavar a minha alma, que foi humilhada durante seis anos, por você, prefeito. Que me humilhou por seis anos. Aqui, na Câmara Municipal, nem tudo o senhor manda”.
Egydio continuou: “Aqui nós não devemos nada a ninguém. Aqui somos sete vereadores que decidiram a candidatura. Quero falar com uma pessoa em particular, Marcos Pereira [deputado federal, do PRB]: chupa!”, disse de forma incisiva. O vereador confirmou o voto em Marcos Paulo, “pra mudar Taboão da Serra”, elegendo o candidato improvável como novo presidente da Câmara Municipal.
Joice Silva finalizou a votação. Em um discurso onde procurou esclarecer o que foi acordado, a presidente disse: “Ouvi uma frase de um líder maior [deputado Campos Machado] que ‘palavra dada e flecha lançada, não se volta atrás’. Eu dei minha palavra na mesa, tive problemas, uma candidatura foi retirada, outras peças foram colocadas no jogo. Mas sempre foi dito que ali era uma irmandade”.
A vereadora parabenizou Marcos Paulo: “O senhor buscou o que tinha vontade”. Mas ressaltou, “em todos os momentos eu falei que confiava em Marcos Paulo, sempre defendi que você não fecharia com outro grupo. Éramos uma família, brigaríamos dentro do grupo. O Sr. buscou a tão sonhada vitória da presidência. O Sr. tem todo direito de buscar esse sonho, mas me chateia porque poderia ter sido conversado [dentro do grupo]”.
Joice cutucou Marcos Paulo, ao dizer que o mesmo já teria decidido seu voto com antecedência sem comunicar aos colegas: “É muito triste quando o senhor diz que no dia 10 de novembro já tinha decidido a sua vida e continuou enganando seis companheiros”. Joice manteve seu voto ao vereador Ronaldo Onishi “conforme combinado com sete vereadores”.