Proteloucas? Manifesto contra o termo
Quem nunca ouviu uma protetora de animais ser chamada de protelouca? Sempre em tom de brincadeira, como se fosse algo bom, esse termo repercute ainda nos dias atuais em nosso meio, fazendo alusões a loucura e histeria de uma mulher em relação a suas atitudes.
Assim, nós mulheres da proteção animal, fomos definidas pelos ditos sãos, aqueles que provavelmente não fariam um terço do que fazemos pelos animais, e isso não tá certo.
Somos loucas por ter a tutela provisória ou definitiva de dezenas e até centenas de cães e gatos que um dia foram abandonados, resgatamos vidas de maus-tratos, de atropelamentos, da fome. Castramos animais que não são nossos, aguardamos por horas em filas de mutirões, dedicamos nosso final de semana, tempo livre, em ações como feiras de adoção, ações de conscientização, reuniões, buscando ferramentas melhores e muitas vezes abrindo mão da vida pessoal com a família. O que não entendem é que eles também são da nossa família.
Somos loucas porque não seguimos o padrão irresponsável de cidadãos que tratam seus animais como objetos, falamos o que for necessário, no momento em que precisa ser dito e para quem quer que seja. Não perdemos oportunidades de conscientizar, sabemos que os animais vagando pelas ruas precisam do mesmo cuidado que o seu de raça.
Sabemos também que você provavelmente não se importa de ter comprado um filhote em canil clandestino onde pagou baratinho. Mas talvez o que você não sabe é que injetou seu dinheiro numa empresa de exploração, é isso que acontece com os pais do seu lindo filhote, são maquinas que produzem dinheiro com anjos violentados, onde cios são induzidos sem descanso, com abuso do corpo, da mente e sem nenhum bem estar para o animal, tudo pelo lucro humano.
Somos loucas por estarmos presentes e reivindicando políticas públicas corretas, buscando respaldo jurídico para a nossa luta. Dizemos NÃO para adoções e ações duvidosas, garantindo a melhor família possível e um futuro de amor para nossos resgatados.
Loucas porque nem o nosso luto é respeitado! Sofremos com a perda de nossos filhos de patas, que carinhosamente dizemos virar estrelinha. Enquanto choramos riem de nós e falam: “tudo isso por causa do cachorro (gato)”?
Imagine você tutor responsável, quando perdeu ou um dia perder seu filho de patas, o mais puro e amoroso membro de sua família, o animal que dedicou seu carinho e cuidou por toda sua vida. Doi né?
Nós vivemos esse luto dezenas e até centenas de vezes, eles são muitos e também os amores de nossas vidas, estejam nela por semanas ou anos. Luto é luto.
Somos loucas porque não nos calamos com as falta de ação e ideias irresponsáveis que a sociedade e os governos dedicam aos animais, sempre diminuindo a importância deles.
Loucas porque fazermos barulho e em nossa grande maioria somos mulheres… mulheres já históricamente taxadas por machistas como loucas, pelo suposto descontrole hormonal e blá, blá, blá.
Piadinhas sobre mulher, sobre protetora, mas agora chega! Esse Blog hoje dá voz a um manifesto contra esse termo sem graça e preconceituoso.
Antes de intitular alguma protetora com adjetivos pejorativos primeiro você precisa saber o que significa ter muitos animais sob sua responsabilidade, precisa brigar por políticas, conscientizar e buscar punição para pessoas irresponsáveis e criminosas, vizinhos que deixam cães e gatos comerem lixos, saírem sozinhos com os perigos das ruas, deixam sem abrigo, sem água, sem comida, amor nem proteção.
Para ter propriedade de fala faça o papel que deveria ser de todos, sociedade, governos e seus poderes. Resgate um animal com fratura exposta, tenha contas gigantescas em veterinários geradas pela sua empatia e amor. Seja julgado por suas ações de fazer o bem a outra espécie deferente e muito superior a sua!
Ai sim! Volte neste blog e diga quem é o louco nessa história.
Texto de Cynthia Gonçalves, protetora e idealizadora da Ong Patre – Proteção Animal de Taboão e Região
Por se tratar de um texto que traz uma opinião pessoal, o artigo, diferentemente do editorial, não reflete necessariamente a opinião do Portal O Taboanense