PSOL confirma pré-candidatura da socióloga Najara Costa a prefeitura de Taboão da Serra
A socióloga Najara Costa é mais uma pré-candidata a prefeitura de Taboão da Serra
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) confirmou nesta terça-feira, dia 21, que irá lançar o nome da atriz e socióloga Najara Costa para a disputa das eleições municipais em Taboão da Serra. A pré-candidata a prefeita da cidade falou com exclusividade ao Portal O Taboanense e disse irá ter como bandeira a luta contra as desigualdades e injustiças sociais.
Najara afirma na entrevista que o PSOL busca quebrar um paradigma enraizado na cidade. “Taboão da Serra é um município onde praticamente inexiste renovação política. Práticas clientelistas são, infelizmente, uma triste realidade”.
O partido de esquerda tentará mudar padrão do eleitor taboanense, que nos últimos oito anos escolheu o PSDB, partido de centro-direita para governar Taboão da Serra. “A falta de renovação nos cargos eletivos traz consequências graves ao processo democrático e isso precisa mudar”.
Leia, a seguir, a entrevista completa com Najara Costa
Najara, essa é a sua primeira experiência na política, o que te levou a se lançar pré-candidata a prefeita de Taboão da Serra?
Eu posso dizer que essa é a minha primeira experiência partidária. Acredito que a política se constrói de diversas formas e que a própria resistência só é possível por meio dela. Vivemos em um momento onde o discurso apolítico está em alta, mas a quem ele serve? Bolsonaro desqualificou veementemente a política e sequer compareceu aos debates. Esse discurso é bem ruim para a democracia. Acredito que a política institucional pode sim ser construída de outras formas e que não podemos cair na descrença sobre representação. Posso afirmar que a indignação me move, pois sou profundamente inconformada com as desigualdades e injustiças sociais.
Você tem um trabalho ligado a cultura aqui em Taboão da Serra, fale um pouco mais de você.
Sou uma mulher negra de 38 anos, nascida e criada na periferia de Taboão da Serra, divorciada, e mãe de um menino de 8 anos, o Fabio. Toda a minha educação básica advém da escola pública estadual. Sou ativista pela cultura desde minha adolescência, com forte engajamento na área do teatro. Tenho formação acadêmica em Universidades Federais, sendo graduada e licenciada em sociologia pela Universidade Federal Fluminense e Mestra em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC. Atuo como professora e pesquisadora das relações raciais desde 2005 e hoje leciono no Governo do Estado e na Faculdade Zumbi dos Palmares. Acredito na educação enquanto instrumentalização social, sendo ela capaz de libertar e conscientizar.
Quais são as áreas que você pretende priorizar em um futuro governo e como vê as últimas gestões que administraram a cidade?
Como eu disse, minhas principais bandeiras são Educação e Cultura, mas entendo que nosso município tem problemas profundos, tais como atendimentos precarizados em prontos-socorros; transporte caro e ineficiente em diversos bairros do município; falta de saneamento básico em diversos locais, ausência de espaços de convivência e lazer etc. Para além disso, é importante apontar que não há políticas públicas direcionadas para mulheres periféricas. Somos o público economicamente mais vulnerável, por conta dos cuidados com os filhos, dessa forma tanto o desemprego quanto o subemprego nos atingem em maior escala. É preciso pensar no fortalecimento de uma economia com foco nas mulheres e outros grupos vulneráveis, envolvendo formação e ocupação.
O que você destacaria no seu Plano de Governo?
A construção de um programa de governo será debatida em plenária com uma ampla frente que apoia a nossa candidatura, sendo: mulheres, negros e negras; LGBTQIA+, juventude, cultura, educação, luta pela moradia etc. Nossa base é ativista e possui acúmulo e qualificação na discussão política com foco propositivo. A candidatura majoritária nasceu desse processo amplo visando a mesma representação de vez e voz.
O PSOL é um partido de esquerda, aqui na cidade temos algumas candidaturas todas de centro-direita, excluindo o PT que deve lançar o professor Oderlan, como você vê esse cenário?
Taboão da Serra é um município onde praticamente inexiste renovação política. Práticas clientelistas são, infelizmente, uma triste realidade. Nesses 60 anos de emancipação foram pouquíssimos os prefeitos, já que famílias tradicionais se perpetuam no poder. A falta de renovação nos cargos públicos traz consequências graves ao processo democrático e isso precisa mudar! Quando não temos políticos no campo progressista a contradição praticamente inexiste e a política continua sendo feita da mesma forma.
Sim, compreendo que a política local é centro direita e isso nos tem sido bem caro. A câmara dos vereadores fecha, muitas das vezes, projetos em bloco, dentro dos tais acordões. Foi assim com o Projeto de Lei “Escola Sem Partido”, que passou de forma unânime pelos vereadores mesmo sendo inconstitucional. Conseguimos que o prefeito vetasse esse PL com muita mobilização, mas o fato é que a ausência de mandatos com vertente progressista é capaz de conduzir grandes retrocessos.
No que se refere ao Partido dos Trabalhadores entendo sua relevância na condução de importantes políticas públicas a nível nacional, mas é preciso garantir a renovação também no âmbito da esquerda, isso é democracia!
Seu partido tem conversado com outros partidos de esquerda para formar uma aliança em Taboão da Serra?
O Rodrigo Martins, enquanto presidente do diretório municipal do Psol, tem feito conversas na compreensão do cenário político. Decidimos em votação que lançaríamos candidatura própria, mas a política também se constrói pelo diálogo, especialmente no âmbito progressista.
Um dos nomes de maior visibilidade do PSOL é do Guilherme Boulos, que teve uma atuação forte aqui em Taboão da Serra liderando algumas ocupações, você acha que isso te ajuda ou atrapalha? Já conversou com ele?
O direito à moradia é fundamental e a luta travada pelo Guilherme é sem dúvida legítima, qual tenho total apoio. Tenho grande respeito pela trajetória do Boulos em nosso município, bem como da qualidade travada em sua disputa à presidência da república. Ao meu ver o Psol é um partido que se consolidada pela luta em várias frentes. Não temos uma grande liderança no partido, mas muitos nomes capazes de travar disputas políticas com propriedade. A Bancada Ativista, aqui por São Paulo, seria um grande exemplo da condução política por um viés coletivo na Assembleia Legislativa. São outras grandes referências as deputadas Sâmia Bonfim, Érica Malunguinho, e a Isa Penna, cujas votações foram expressivas em Taboão. Isa, inclusive conduziu recentemente o processo de uma emenda impositiva de 400.000 (quatrocentos mil reais) para a habitação em nosso município.
O PSOL lançou nas últimas duas eleições o Stan, o que muda para sua campanha, esse perfil de uma mulher, negra, jovem é uma novidade para Taboão da Serra?
Tenho grande respeito pela trajetória do Stan e conversei muito com ele sobre a condução desse novo processo. Estamos conectados no propósito de resistir e construir um projeto real para o município, nesse sentido aliamos a inovação com a experiência de sua sólida militância. Meu nome foi apontado como uma alternativa e decidimos coletivamente encabeçar via DemocraCidade e PSOL Para nós é muito importante que outras mulheres se vejam representadas em nossa candidatura, sobretudo as negras e periféricas. Somos a maioria da população e queremos construir outras representações. A mulher negra está na base da pirâmide social e enfrenta estereótipos negativos que se conectam à classe e cor, muito por conta do nosso grotesco passado de escravização. A novidade é justamente o fato de que precisamos construir novas alternativas políticas, com maior diversificação e próximas de quem somos.
Quem te apoia? Seu grupo político é formado por quem?
Sou membra fundadora do DemocraCidade Taboão, um movimento coletivo independente pela ampliação do debate democrático sobre questões sociais, políticas e culturais de Taboão da Serra. Esta construção nasceu de uma indignação com a política nacional e local, aliada a ideia de construir e modificar nossa realidade. Temos atuação em frentes amplas, tais como: mulheres, negros e negras, LGBTQIA+, juventude, cultura, educação, luta por moradia etc. Com um foco no viés político institucional, traçamos a proposta de eleger ativistas que estejam conectados com os princípios do nosso manifesto, sendo este um novo formato de ocupação política.
O PSOL vai lançar candidatos a Câmara Municipal também, quais são os candidatos?
Sim. Temos o propósito de lançar cerca de 20 nomes para concorrer a vereança pelo Psol, tanto no formato de mandato coletivo, quanto de candidaturas individuais. Vamos fechar os nomes com circulação das propostas após nossa próxima reunião, que será em fevereiro, pois esse será o cerne do próximo debate.