Reaproveitamento integral de alimentos combate desperdício e aumenta valor nutricional das receitas
Docentes do Senac falam sobre os benefícios do aproveitamento total dos alimentos e como o hábito pode favorecer também a economia no orçamento doméstico
Não é de hoje que o aproveitamento integral dos alimentos é uma questão entendida como fundamental. Em primeiro lugar, porque dados da Organização das Nações Unidas mostram que o acesso a uma alimentação de qualidade continua sendo uma questão crítica mundo afora. Em matéria publica em 2019, com dados do ano anterior, por exemplo, números mostraram que 820 milhões de pessoas não tiveram acesso suficiente a alimentos, o que significa que passaram fome. Ainda de acordo com a ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 2017, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos eram perdidos por ano no mundo, o que representava cerca de 30% do total produzido.
Isso, por si só, já mostra a importância da conscientização em torno do assunto, avalia a especialista Vanessa Boeno Said, nutróloga e docente do Senac Guarulhos. “Sob o ponto de vista do tripé da sustentabilidade, o aproveitamento integral e o reaproveitamento dos alimentos significam cuidar do meio ambiente, usando de forma consciente os recursos naturais, além de viabilizar acesso ao alimento seguro e garantir alimentação nutritiva. É preciso ensinar para a população técnicas de gastronomia para transformar alimentos que seriam desperdiçados em pratos saborosos e sobretudo nutritivos”, explica.
Além dessa importante contribuição para a saúde do planeta, adotar na rotina diária a prática de aproveitamento total dos alimentos também tem um reflexo relevante para a economia doméstica, já que alimentação, em geral, está entre as despesas mais representativas do orçamento familiar, com valores que sobem constantemente. Recentemente, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) noticiou uma alta de 0,61% no preço dos alimentos para serem consumidos em casa. Em agosto, puxada pela alta dos preços de alimentos e gasolina, a inflação ficou em 0,24%, maior taxa para o mês desde 2016, apontou o IBGE.
“O consumo de alimentos de forma integral é uma eficiente alternativa para melhorar a nutrição das pessoas e contribuir para redução de custo com as compras, pois ao utilizar todas as partes comestíveis do alimento, além de se evitar o desperdício, produzimos receitas mais nutritivas, ricas em fibras, vitaminas e minerais”, diz Vanessa Baratella Frazato, docente da área de nutrição do Senac Santos.
Já Maria Helena de Andrade, docente da área de alimentação no Senac Taboão da Serra, explica que as partes do alimento chamadas de “não convencionais”, como talos e cascas, por exemplo, acabam sendo descartadas equivocadamente, já que muitas delas, são saudáveis e possuem muitos nutrientes. “Há uma lista de possibilidades nesse sentido, mas algumas principais e mais conhecidas são: a cenoura e sua rama, a beterraba e sua folhagem, laranja e abacaxi e suas respectivas cascas, o melão e a abóbora e suas sementes, além da couve e seu talo”, enumera a especialista.
Ela explica também o conceito de reaproveitamento dos alimentos, que está relacionado com o ato de usar novamente aquilo que foi manipulado, porém não servido, que também é conhecido como “sobra limpa”. “Neste caso podemos citar como exemplo a carne moída preparada no almoço, que se transforma em bolinho no jantar, a salada crua não temperada que pode se tornar uma preparação refogada, ou o pão, que pode ser utilizado para fazer torrada ou farinha de rosca, e ainda o frango assado, que pode ser desfiado e se transformar no recheio de uma panqueca”, completa Maria Helena.
Da teoria à prática, na cozinha
Agora que as especialistas já falaram sobre as técnicas, elas indicam algumas receitas para colocar o hábito de aproveitar e reaproveitar os alimentos em prática, melhorar o valor nutricional das preparações, além de buscar o equilíbrio do orçamento.
– Bolo de laranja com casca
Ingredientes: 3 laranjas (2 inteiras com a casca e outra somente o suco), 4 ovos caipiras, ¾ de xícara (chá) de óleo de girassol ou óleo de coco, 1 xícara (chá) de açúcar demerara orgânico, 2 xícaras de farinha de arroz e 1 colher de sopa de fermento. Para calda: 200 ml de suco de laranja e 100 g de açúcar demerara orgânico.
Modo de preparo: Após higienizar bem as laranjas, corte-as ao meio para retirar o miolo branco (não retirar a casca). Pique as duas unidades das laranjas (com casca) em cubos. Transfira-as para o liquidificador e bata com o suco da outra laranja, os ovos, o açúcar e o óleo. Em uma tigela misture o que foi batido com a farinha de arroz e o fermento, até que tudo fique bem homogêneo. Leve para assar em uma forma redonda com furo no meio, já com o forno pré-aquecido a 200°C, por cerca de 40 minutos. Enquanto isso, misture os ingredientes da calda e deixe ferver em fogo baixo até que fique grossa. Derrame a calda no bolo e sirva.