Região perde mais de 57 médicos cubanos do Programa Mais Médicos
Embu das Artes, Itapecerica da Serra e Embu-Guaçu serão as cidades mais prejudicadas com a saída dos profissionais cubanos na região
Tarifa, secretário municipal de Embu das Artes e Michele Sales, presidente da Autarquia de Saúde de Itapecerica: situação delicada
Com informações da Agência Brasil
O governo de Cuba informou na última terça-feira, 14, que deixará de fazer parte do programa Mais Médicos. A justificativa do Ministério da Saúde cubano é que as exigências feitas pelo governo eleito são “inaceitáveis” e “violam” acordos anteriores.
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O presidente eleito Jair Bolsonaro disse, na sua conta do Twitter, que a permanência dos cubanos está condicionada à realização do Revalida pelos profissionais, que é o exame aplicado aos médicos que se formam no exterior e querem atuar no Brasil. Bolsonaro afirmou que não pretende suspender o programa.
Na região diversas cidades serão afetadas com a saída dos médicos cubanos do programa. Embu das Artes, Itapecerica da Serra e Embu-Guaçu serão os municípios mais prejudicados com a decisão. Taboão da Serra possui convênio com o Mais Médicos, mas nenhum dos oito profissionais que estão na cidade são cubanos.
A situação mais delicada é de Embu das Artes. A cidade conta com 20 profissionais cubanos que atuam nas UBS no Programa de Saúde da Família. “Vamos perdê-los e ainda estamos estudando a forma de termos o menor impacto possível. Estamos preparando um Processo Seletivo emergencial, teremos que contratar no mínimo essa quantidade de médicos, de imediato”, diz José Alberto Tarifa, secretário de saúde de Embu das Artes.
A preocupação do secretário é que mesmo com um novo concurso aberto, o número de candidatos não seja o suficiente para preencher as vagas que serão deixadas em aberto com a saída dos médicos cubanos. “Nossa maior preocupação é não termos médicos em número suficiente que queiram trabalhar aqui”.
Outra cidade que irá enfrentar dificuldades com a saída dos médicos cubanos é Itapecerica da Serra. Dos 21 profissionais contratados pelo Mais Médicos, 19 são de Cuba e devem deixar o município nos próximos dias.
Para a superintendente da Autarquia de Saúde de Itapecerica da Serra, Michele Sales, pelo menos 10 unidades de saúde da cidade ficarão sem médicos intercambistas. “Fomos pegos de surpresa, na véspera de feriado. Conversei com o prefeito para tentar diminuir o impacto desses servidores para o município. Não temos verba para contratar uma OS [Organização de Saúde] ou abrir um novo concurso. Sabemos que os médicos que trabalham na nossa cidade não vão suprir esses que vão nos deixar”.
Michele lembra que em 2013, quando a lei foi sancionada, “o objetivo era diminuir a carência de médicos nessas regiões prioritárias, e nossa cidade é prioritária. A chegada desses médicos foi um alívio, devido nossa dificuldade de preencher as vagas existentes no município”.
Taboão da Serra não deve enfrentar os mesmos problemas das cidades vizinhas. “Temos oito médicos contratados pelo Mais Médicos, mas nenhum deles é cubano, então nosso atendimento não será alterado por essa medida”, diz Dra. Raquel Zaicaner, secretária municipal de saúde.
Além das duas cidades, Embu-Guaçu, com 18 médicos atuando na cidade através do convênio também deverá ser bastante afetada.
O número de profissionais autorizados a atuar nas cidades da região estão divididos da seguinte maneira: Juquitiba, cinco médicos; São Lourenço da Serra, dois médicos; Embu-Guaçu, 18 médicos; Itapecerica da Serra, 20 médicos; Embu das Artes, 21 médicos e Taboão da Serra, nove médicos.
Histórico
O programa foi criado em 2013, na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, para levar médicos a regiões distantes e periferias do país. A vinda dos médicos cubanos foi acertada por meio de convênio firmado entre os governos brasileiro e de Cuba, por meio da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), e que dispensava a validação do diploma dos profissionais. Na ocasião, o acordo foi questionado por entidades médicas brasileiras.
Em abril deste ano, o Ministério da Saúde confirmou a suspensão do envio de 710 profissionais cubanos ao Brasil para trabalhar no programa Mais Médicos. Na ocasião, o então ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse que a iniciativa não prejudicaria o país. Segundo Barros, o governo cubano tinha a previsão de reduzir de 11,4 mil para 7,4 mil médicos de Cuba no período de três anos. De acordo com ele, as substituições serão feitas por médicos brasileiros que estão no cadastro anterior. Anteriormente, a previsão era de o Brasil receber de 3 mil a 4 mil profissionais cubanos este ano.
Atualmente, conforme dados do ministério, o programa tem 18.240 médicos trabalhando em 4.058 municípios e 34 distritos sanitários especiais indígenas.
À Agência Brasil, a Opas informou apenas que encaminhou o comunicado do governo cubano ao Ministério da Saúde do Brasil.
Países
O Ministério da Saúde de Cuba informou que há médicos cubanos em atuação em 67 países. Em 55 anos, o órgão destacou foram 600 mil missões internacionais, em 64 países, envolvendo mais de 400 mil profissionais de saúde cubanos.
O órgão informou que os profissionais da área trabalharam no combate ao ebola na África, à cólera no Haiti e em missões de desastres e epidemias no Paquistão,na Indonésia, no México, Equador, Peru, Chile e na Venezuela.