Supletivo gratuito traz novas oportunidades em Taboão da Serra
Por Carla Monique Bigato
ACERVO HISTÓRICO – Às 19:00 horas o portão do colégio estadual Maria Catharina Comino, localizado na Vila Iase, se parece com o de escolas de filmes americanos. Os alunos têm idades e estilos totalmente diferentes. Os garotos que se vestem como rappers misturam-se no pátio às senhoras que aguardam o sinal que indica o início das aulas. São 13 salas para o supletivo onde a direção procurou mesclar alunos de idades diferentes para melhor aproveitamento das aulas. A faixa etária dos alunos do supletivo varia entre 16 e 60 anos.
O colégio funciona desde 1979 e há cinco anos decidiu investir na educação para adultos. Existem 493 vagas para o supletivo e durante as inscrições a procura chega a atrair cerca de mil candidatos interessados nas vagas. O ‘Catharina’, como é chamado, se mantém com a verba recebida do Estado e contribuições voluntárias da APM (Associação de Pais e Mestres). Em janeiro de 2001 Adriana Figueiredo Catroni assumiu a direção do colégio e utilizando apenas essas arrecadações promoveu grandes mudanças na escola; investiu em recursos didáticos (como compra de computadores e construção de um laboratório de ciências) e realizou reformas no prédio. Para a secretária da escola Maria Aparecida Cruz “Adriana é a diretora que a escola estava precisando. Antes da entrada dela o colégio era sempre assaltado. A diretora é amiga de todos, é ao mesmo tempo compreensiva e durona”.
O ensino
Nas aulas para o supletivo o conteúdo, embora compacto, é o mesmo que o do ensino convencional, o que muda é o modo como os professores se expressam. Para a professora Sueli Nascimento Araújo “os professores devem adequar sua linguagem à dos alunos, associar as experiências em sala com a experiência de vida deles. O bom do ensino do supletivo é que o professor está ensinando para quem realmente quer aprender”. Isso explica o porquê da grande facilidade do colégio em conseguir professores para o supletivo noturno. Sueli ainda acrescenta que os alunos possuem muito conhecimento adquirido ao longo da vida, é função do professor fazer com esse conhecimento floresça.
No início das aulas os alunos mais velhos sentem-se receosos: “eu pensei que não fosse conseguir aprender, mas é muito gratificante fazer uma prova e receber uma boa nota. É sinal que mesmo depois de tanto tempo longe dos estudos ainda sou capaz de assimilar novas informações” diz a aluna Maria da 5ª série, que tem 56 anos de idade. Para quem não pôde estudar na infância o supletivo aparece como uma nova oportunidade para a atualização dos conhecimentos, a busca por melhores empregos e a formação superior. Após a formatura da 8ª série, os alunos são encaminhados para supletivos do 2º grau e, e concluída essa etapa, estão aptos a se tornarem universitários.
Para Márcia Guimarães, outra aluna da 5ª série, “tudo é novidade, desde o aprendizado até a relação com colegas de sala. Quando eu venho para a escola eu esqueço dos problemas da vida. É como uma terapia”. Mas é no intervalo que os alunos sentem-se de volta à infância; praticamente todos enfrentam a enorme fila para servirem-se da apetitosa merenda distribuída gratuitamente pela escola. A cada dia é servido um cardápio diferente, e para quem trabalhou o dia todo a merenda tem mais sabor ainda.
O colégio Estadual Catharina Comino já recebeu o prêmio de melhor entidade de ensino da região (Taboão, Embu e Itapecerica) e tem como objetivo tornar-se escola-modelo. O resultado da dedicação de alunos e professores é comemorado todos os fins de semestre, durante as festas de formatura dos alunos de 8ª série.