Taboanense adotado por alemães busca informações sobre sua mãe
O taboanense Rodrigo Alves Lopes, adotado por uma família alemã, quer achar a mãe, que ainda pode morar em Taboão
“Às vezes eu choro quando estou sozinho, eu sinto saudades e quero sentir o perfume da minha mãe”. A frase de Rodrigo Alves Lopes revela toda a dor que a distância e o tempo cravaram na história desse taboanense, que assim como alguns brasileiros tiveram o rumo de suas vidas alteradas por essas mazelas que infelizmente ainda atormentam o nosso país.
Rodrigo nasceu em uma família pobre, não conheceu o pai e desde muito cedo morou em um orfanato, porque sua mãe, Solange Alves Lopes, não tinha condições nem de alimentá-lo. Apesar da vida dura, quando até uma passagem de ônibus é um luxo, ela ia visitá-lo pelo menos uma vez por mês.
O destino de Rodrigo começou a mudar aos seis anos, quando uma família alemã visitou o orfanato, conheceu o garoto e pediu para adotá-lo. O pedido foi levado ao conhecimento da mãe. Solange aceitou, acreditando que na Europa estava a oportunidade de uma vida melhor que o seu próprio país havia lhe negado.
Essa história já tem 11 anos. Hoje, Rodrigo mora em uma casa confortável em Munique, tem uma vida boa, carinho dos pais adotivos, estuda, pratica esportes e já sonha com o seu futuro. Porém, apesar de ter tudo o que uma adolescente quer, a falta da mãe verdadeira deixa uma lacuna na sua felicidade.
Acontece que neste ano Rodrigo decidiu que quer rever a mãe, porém a distância fez com que perdessem contato e, para piorar, hoje não fala mais nada de português, o que dificulta ainda mais a procura por Solange.
O começo da busca
A sorte mais uma vez bateu a porta de Rodrigo. Aos 17 anos conheceu, sem querer, uma brasileira chamada Rosemary Kopp, que mora em Munique há oito anos. “Ele não fala nosso idioma, nos conhecemos em um Biergarten (bar ao ar livre) e foi só por acaso que sentamos na mesma mesa. Percebi que ele falava sobre o Brasil com as pessoas que o acompanhavam e que depois fiquei sabendo serem o pai adotivo e a namorada do pai”, contou.
Segundo Rosemary, os pais adotivos separaram-se em 1997 e Rodrigo mora hoje com o pai. No início do ano passado, Rodrigo recebeu um e-mail de uma conhecida de uma tia dele. “Como conheço alguns casos em que oportunistas tentam se aproveitar desse tipo de história, tentei entrar em contato com a pessoa no número que ele me passou, mas o número era de um orelhão”, relevou.
A brasileira se prontificou a ajudar Rodrigo. E é aí que o Portal O Taboanense entra na história. Rosemary encontrou o site através de um mecanismo de busca e nos escreveu contando tudo que já descrevemos até aqui. “Agradeceria muito se vocês nos ajudassem já que estando aqui na Alemanha não tenho como procurar pessoalmente a Solange ou algum parente dela”.
Rodrigo tem poucos dados sobre a mãe, apenas alguns documentos emitidos no Brasil, na época que estava ainda no orfanato. Segundo Rosemary, ele sabe apenas que o nome dela é Solange Alves Lopes, filha de Almirinda Alves Lopes. Em 1989, ela morava na rua Rui Barbosa, nº 3, no Pirajuçara.
Nossa reportagem foi até o endereço indicado, mas o número da casa indicada pelos documentos de Rodrigo não correspondem a numeração da rua. Nesta semana, com a ajuda da prefeitura, faremos uma nova busca atrás de Solange. Qualquer informação sobre Solange Alves Lopes, nosso e-mail é [email protected]. Com a ajuda de Rosemary, fizemos uma entrevista com o taboanense que procura a mãe:
Rodrigo, o que você se lembra aqui do Brasil?
Tudo o que lembro é do orfanato. E de que de vez em quando minha mãe vinha me visitar. Não lembro mais o rosto dela. Só lembro que ela dizia que ia tentar vir mais vezes. Depois foi só a nova vida, minha vinda para a Alemanha e a perca de contato.
Mesmo distante, você tenta se informar sobre o Brasil?
Eu leio tudo o que cai em minhas mãos sobre o Brasil. É uma fixação. Sou louco para ir até aí e poder encontrar minha família.
Você guarda alguma mágoa da sua mãe legítima?
Não. Eu me lembro dela vindo me visitar e sei que o que a levou a me deixar no orfanato foi a necessidade. Se ela não se importasse comigo não iria me visitar.
Nesse ano a Copa do Mundo vai ser aí na Alemanha, você vai torcer pelo Brasil?
Eu já tenho a camiseta verde e amarela. Sempre torci pelo Brasil, está no sangue. Na Copa anterior foi a mesma coisa. Na final, quase fui isolado por ser o único.
Você tem vontade de conhecer o Brasil?
É o meu sonho. Assim que terminar meus estudos e poder trabalhar, economizarei para ir procurar minha mãe.
Rodrigo, você se sente bem aí na Alemanha?
Sim, sinto-me bem sim, mas dentro de mim não consigo ser feliz, pois falta uma parte. Como eu já disse, está no sangue. Às vezes eu choro quando estou sozinho, eu sinto saudades e quero sentir o perfume de minha mãe. Meus pais adotivos estão separados, meu pai é legal. Mas, eu sempre senti falta de minha mãe verdadeira.
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