Taboão 66 anos: história e reflexões taboanenses – Parte I
Um lugar bucólico quase a meio caminho entre a Praça da Sé e a Vila de Itapecerica
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Largo no Taboão antes da emancipação da cidade. No fundo a antiga igreja Sanata Terezinha
Da coluna “Nas Beiradas da Metrópolis”
Após 66 anos de autonomia político-administrativa, taboanenses conhecem bem as circunstâncias e consequências do fato de viverem num dos enclaves periféricos da “Pan-Américas de Áfricas utópicas // túmulo do samba // Mais possível novo Quilombo de Zumbi” (Caetano Veloso, Sampa, 1978).
De fato, para quem não conheça bem a Grande São Paulo, ao transitar pelos distritos de Morumbi, Campo Limpo ou Butantã, se tiver de passar por Taboão talvez a perceba como parte de um desses distritos da região su-sudoeste da Capital.
O lugar que deu origem a Taboão da Serra já trazia consigo, muito antes de Caetano se encantar com a Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade (1922), as contradições e peculiaridades dos territórios periféricos, inserindo-se na complexa tapeçaria das antigas periferias metropolitanas formadas ao longo do caminho dos colonizadores portugueses saídos do litoral rumo ao lugar em que fundariam São Paulo de Piratininga (1554).
A pré-história taboanense está relacionada à Vila de Itapecerica da Serra, instalada pelos jesuítas em 1562 num dos trechos do percurso que fizeram saindo de Cananéia (1531) para transpor a Serra do Mar e chegar ao Planalto Paulista. O mesmo processo de formação deu origem a São Bernardo do Campo (1549) e Santo André (1553), igualmente fundadas no caminho alternativo aberto mais ao norte pelos colonizadores, a partir da Vila de São Vicente (1532).
A história de Taboão começa efetivamente por volta de 1910,com a instalação da Vila Poá entre as margens dos córregos Poá e Pirajuçara. A nova vila nasce como subdistrito de Itapecerica da Serra e possuía basicamente um núcleo de povoamento no chamado “centro velho”, que hoje constitui o Jardim Santa Luzia e adjacências. Um segundo núcleo, de característica essencialmente agrícola e que será vital para a criação do futuro município, estava se formando neste momento na região do Vale do Pirajuçara, na área de abrangência dos córregos Pirajuçara, Joaquim Cachoeira e Ponte Alta.
A Vila Poá era um cenário bucólico, parte integrante do “cinturão verde” no entorno da Capital, que no início do Século XX se torna importante zona produtora de hortifrutigranjeiros. Eram poucas casas, boa parte delas chácaras que produziam batata, cenoura e mandioca, além de alguns pomares e parreiras. Na ocupação agrícola das fronteiras da Capital destaca-se a contribuição de inúmeros imigrantes japoneses, os quais estiveram bem representados na Vila Poá por pessoas como Kizaemon Takeuti e sua família.
De um lugar bucólico, quase a meio caminho entre a Praça da Sé e a Vila de Itapecerica, o município de Taboão das Serra tornou-se um caso exemplar para compreensão dos efeitos sociais da urbanização caótica e da explosão populacional sobre as sofridas periferias situadas nas bordas da Capital paulista, as quais, embora muitas vezes invisibilizadas, também são partes integrantes da história paulistana, trazendo cada uma delas suas próprias histórias, ritmos, formas de resistência e de superação.