Taboão da Serra: Por motivo torpe e perigo comum, MP denuncia envolvidos no ataque forjado contra Aprígio

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O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) apresentou denúncia contra cinco indivíduos envolvidos na tentativa de homicídio qualificada, com quatro agravantes, devido ao planejamento e à execução do ataque forjado com tiros de fuzil contra o então prefeito e candidato à reeleição de Taboão da Serra, José Aprígio (Podemos), em outubro do ano passado.
Segunda a Polícia Civil e o MP-SP, o plano visava impulsionar a candidatura à reeleição de Aprígio em 2024.
Na denúncia do MP enviada para a Justiça na segunda-feira, dia 24, houve perigo comum, motivo torpe mediante pagamento ou promessa de recompensa. A Promotoria diz que os intermediários e os executores combinaram dividir R$ 500 mil para colocarem o plano na prática, “agindo como verdadeiros mercenários e matadores de aluguel”. Eles também foram denunciados por associação criminosa, adulteração e incêndio de veículo.
Estavam no veículo – o então secretário municipal de segurança Paulo Sérgio da Silva, o motorista José Carlos Oliveira da Silva e o fotógrafo Jesiel Medeiros Morais. Nenhum deles foi ferido, porém o MP entende que a presença deles no veículo, agrava a conduta dos denunciados.
A promotoria alega que os denunciados assumiram o risco de matar os ocupantes do carro, pois a arma usada tem “alto pode lesivo” e que a blindagem do veículo não era resistente a armas de grosso calibre.
Envolvidos
A representação confirma que duas pessoas atuaram como intermediários para o planejamento do crime e outros três agiram diretamente na execução e fuga do local. Foram denunciados: Gilmar Santos, Odair de Santana e Jefferson de Souza: executores do plano.
Segundo o Ministério Público, além do ex-prefeito, mais 15 pessoas são investigadas por participar direta ou indiretamente do falso atentado, entre eles três ex-secretários. Os mandantes ainda não foram formalmente identificados pelos investigadores.
Outras três pessoas que estavam no veículo – o então secretário municipal de segurança Paulo Sérgio da Silva, o motorista José Carlos Oliveira da Silva e o fotógrafo Jesiel Medeiros Morais. Nenhum deles foi ferido, porém o MP entende que a presença deles no veículo, agrava a conduta dos denunciados.
A Promotoria também sustenta que o então prefeito não morreu por não ter regiões vitais atingidas e por ter sido prontamente atendido ao hospital, e que os denunciados tinham ciência de que o veículo usado pelos atiradores estava com as placas, chassi e motor adulterados, com o objetivo de dificultar a identificação do automóvel após a tentativa de homicídio.
Delação colaborativa
Em fevereiro um dos envolvidos no crime, Gilmar de Jesus Santos, firmou um acordo de delação colaborativa com as autoridades que investigaram o suposto atentado contra o então prefeito de Taboão da Serra, José Aprígio (Podemos), revelou que o crime tinha sido forjado. Ele também forneceu aos investigadores detalhes sobre o caso.
No depoimento, Gilmar contou que foi contratado por Aprígio e seu grupo político para criar uma encenação que o ajudaria a se reeleger. Ele explicou que o plano era simular um atentado para gerar repercussão e sensibilizar eleitores, e quem sabe ele poderia reverter o resultado adverso e vencer as eleições. Mas Aprígio foi derrotado no 2º turno.
“O combinado era dar um ‘susto’ que chamasse a atenção da mídia, que fosse parar no Fantástico. O prefeito sabia de tudo”, afirmou o delator.
O ataque forjado aconteceu em 18 de outubro de 2024, quando Aprígio, então candidato à reeleição, foi atingido de raspão no ombro esquerdo por estilhaços de uma bala de AK-47. Seis disparos perfuraram a blindagem do carro em que ele estava.
Gilmar, que está preso, afirmou que avisou ao grupo envolvido que o fuzil utilizado poderia perfurar a blindagem do carro. “Eu avisei que o fuzil atravessava blindagem. Se era só para chamar atenção, havia risco de alguém ser atingido”, relata o delator, que diz ter desistido do plano três vezes por pressentir que algo daria errado. “Senti algo ruim, que algo ia dar errado.”
Ele contou que, com Odair Júnior de Santana, disparou contra o veículo onde estavam Aprígio e outras três pessoas. O ataque foi simulado com um carro vermelho.
Segundo Gilmar, as conversas entre os envolvidos eram intermediadas por Anderson da Silva Moura, o “Gordão”, e Clóvis Reis de Oliveira. O pagamento pelo serviço seria de R$ 500 mil, valor que, segundo ele, foi fornecido pelo próprio Aprígio e seria divido entre quatro pessoas, ele e mais três, e que se Aprígio vencesse as eleições ele teria uma colocação na administração.
Gilmar admitiu que aceitou participar do plano porque esperava conseguir um cargo público caso Aprígio fosse reeleito. “Não queria prejudicar ninguém, só queria ser beneficiado de alguma forma. Meu interesse não era o dinheiro e, sim, um trabalho.”
Ex-prefeito sabia da farsa
A ideia de usar um fuzil teria partido do ex-prefeito. “Ele queria que parecesse real. Eu sugeri atirar no capô para evitar ferimentos, mas ele insistiu que fosse na lateral”, contou Gilmar.
Além disso, ele afirma que Aprígio entregou R$ 85 mil a secretários para o dinheiro chegar aos intermediários, responsáveis por comprar a arma usada.
“O fuzil era um AK-47, com dois carregadores: um com quase 50 balas e outro com 30”, detalhou o delator. Ele também assume ter disparado contra o pneu do carro. “Quando vi os primeiros tiros atingindo o vidro, tomei o fuzil e fiz o disparo. Depois fui embora.”
O motorista, um secretário e um cinegrafista que estavam no veículo saíram ilesos. O cinegrafista chegou a gravar imagens de Aprígio ferido, e, em menos de 30 minutos, um vídeo editado do suposto ataque já circulava nas redes sociais e na imprensa.
“O videomaker, em vez de tentar socorrer o prefeito, que seria a coisa mais natural no mundo, ele se preocupa em fazer o quê? Filmar”, destacou o delegado Hélio Bressan, que foi o responsável pela investigação.
Investigados
Além do ex-prefeito, 15 pessoas são investigadas por envolvimento no falso atentado, incluindo secretários municipais e o sobrinho de Aprígio, Cristian Lima Silva.
Cristian Lima da Silva já havia sido acusado de inventar um ataque a tiros em 2020, em Alagoas, para favorecer a candidatura do pai à prefeitura de Minador do Negrão.
Se for comprovado o envolvimento de todos, os investigados podem responder por associação criminosa, tentativa de homicídio, incêndio e adulteração de placa de veículo. As penas podem chegar a 30 anos de prisão.
Após o falso atentado, Gilmar e Odair queimaram o Nissan March usado na ação. “Odair jogou gasolina e eu botei fogo”, contou Gilmar. O carro foi incendiado em Osasco.
Vantagem política
O objetivo da simulação, segundo a polícia, era reverter a desvantagem de Aprígio no primeiro turno das eleições municipais em Taboão da Serra. Apesar disso, ele perdeu o pleito de 27 de outubro para Engenheiro Daniel (União Brasil).
Nas redes sociais, Aprígio chegou a divulgar que havia fraturado a clavícula no suposto atentado, e as imagens viralizaram.
Após o ocorrido, no hospital, o então prefeito Aprígio e candidato à reeleição, expressou gratidão aos seus apoiadores: “Graças a Deus que eu tenho o apoio da minha família, de vocês, das igrejas que estão orando por mim, da minha família, mas dói muito.”
“No início, ele [Aprígio] era tratado como vítima, mas as provas indicam que ele estava ciente do atentado forjado”, explicou o promotor Juliano Atoji.
O atual prefeito de Taboão da Serra, Engenheiro Daniel (União Brasil) disse ter certeza de que foi um atentado forjado. Ele desabafou após uma entrevista coletiva.
Investigação
Durante a operação Fato Oculto, que aconteceu dia 17 deste mês em Taboão da Serra, foram apreendidos mais de R$ 300 mil na casa de Aprígio. Ele não foi encontrado para comentar o caso. O advogado dele, Alan Mohamed Melo Hassan, alega que o ex-prefeito é inocente e que não teve nenhum envolvimento com o atentado.
“Não é crível você pensar que uma pessoa de 73 anos estaria sujeita a receber um tiro de fuzil achando que talvez pudéssemos modificar um certame eleitoral. Eu tenho convicção de que ao final será demonstrado não só para ele, mas para os seus familiares e toda a sociedade que ele é a vítima nessa história”, disse Alan Mohamed Melo Hassan.
A reportagem tenta contato com defesa dos investigados.