Taboão da Serra: vereadora Joice Silva apresenta voto de repúdio ao coach Thiago Schutz
Vereadora Joice Silva durante sessão na Câmara Municipal de Taboão da Serra nesta terça-feira, 7
A Polícia Civil de São Paulo abriu inquérito, no último dia 1º, para investigar a ameaça de morte feita pelo autointitulado coach de relacionamentos Thiago Schutz contra a atriz e humorista Livia La Gatto.
Schutz faz parte do movimento RedPill, que inferioriza as mulheres falando que elas servem apenas para relações sexuais casuais, e que o atual sistema supostamente favoreceria as mulheres.
O caso ganhou repercussão em todo país e também em Taboão da Serra. A vereadora Joice Silva apresentou um voto de repúdio ao “coach” Thiago Schutz pelas suas falas machistas. O documento foi aprovado por unanimidade na sessão desta terça-feira, dia 7, na Câmara Municipal.
A vereadora Joice Silva disse em seu requerimento que “as suas palavras evidenciam que o machismo é um dado cultural que ultrapassa classes sociais e ideologias, contaminando todo mundo. Os comportamentos agressivos às mulheres não podem ser considerados naturais. Precisam ser punidos de maneira rigorosa, de acordo com a lei”.
Na tribuna da Câmara Municipal de Taboão da Serra, Joice Silva defendeu o voto de repúdio porque Schutz vem ministrando cursos onde dissemina ideias machistas na Internet. “Quando uma ativista rebate alguma fala, ele ameaça de morte. Esse homem precisa ser repudiado por todas as Câmaras Municipais, pelo Senado, pelo Congresso, pela Assembleia e por toda justiça brasileira. E Pasmem, ele tem milhares de seguidores”.
Joice Silva ainda lembrou que as mulheres precisam lutar contra o machismo durante toda a vida. “Nós mulheres, infelizmente, sofremos com o preconceito, muitas vezes, já na concepção. Muitas vezes tem aquele pai machista que no exame de ultrassom se revolta porque mostra que é uma menina. E assim vamos vivendo o machismo pelo longo da vida. Precisamos combater isso, é nosso dever”.
Entenda o caso
A atriz Livia La Gatto publicou dois vídeos nas suas redes sociais usando o humor para evidenciar os absurdos que são proferidos por esses grupos machistas.
Nas redes sociais, Thiago Schutz alegou que suas ameaças – de que “se a atriz não retirasse conteúdo, ela levaria bala” – eram para ser consideradas de forma figurativa e não literal. Ele disse que não possui e nem tem porte de arma.
Esse caso não é único. A professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Lola Aronovich, uma das precursoras do ativismo feminista na internet, relatou que teria recebido ameaça de morte nesta semana e que o remetente expôs, inclusive, seus dados pessoais.
Convivendo há mais de 12 anos com essas ameaças, ela estuda o funcionamento desses grupos. Ela disse que o movimento RedPill é outra vertente desses grupos masculinistas e que, nesse caso, usam o suposto discurso de autoajuda nos relacionamentos para propagar machismo e misoginia.
“Uma das sinas deles é que eles são heterossexuais. Porque seria mais fácil, se eles fossem homossexuais, eles se relacionarem só com homens. Uma das coisas que eles dizem é que “se não tivesse vagina, eu nem falava com ela”. Ou seja, ele só vê a mulher como um objeto sexual. E tem gente que defende que não tem que ter nenhum relacionamento com mulher mesmo, ou só com prostitutas”, disse a professora.
Para a psicanalista Sabrina Arini, o surgimento desses grupos é uma reação de alguns homens contra a emancipação feminina e a luta por igualdade de direitos, que tirou dos homens o papel de destaque na sociedade. No entanto, Arini ressalta que é necessário trabalhar e dialogar com essa frustração masculina para que ela não se transforme em violência – seja contra eles mesmos, ou contra toda a sociedade.
“O que a gente escuta muito nos grupos é isso, e eu acho que ter uma resposta para isso, não se sentir esse cara, não consigo ser esse cara, que é ou eu vou deprimir ou eu vou ser mais violento. Eles saem para esses dois lados. Eles ficam com raiva e mostram a violência ou contra as mulheres ou contra eles mesmos. Brigam no trânsito, batem, se batem, gera violência. Ou uma coisa muito melancólica, muito depressiva, eu não sirvo, eu não presto, eu não me encaixo, eu não sou homem”, disse a psicanalista.
Sabrina Arini ainda vê outro perigo no fortalecimento dos grupos misóginos, que é a de negar a realidade a partir do discurso – uma tática amplamente usada pela extrema-direita em todo o mundo.
“Tem o RedPill, que é a pílula vermelha do filme Matrix, que é como se aquilo que você está vendo não é a realidade. A realidade é aquilo que eu vou te contar. Eu vou te contar e eu digo o que eu quiser. É uma estratégia da extrema direita do mundo, que é negociar a realidade. A gente olha no WhatsApp e lê que a economia está super bem, e eu vou no mercado e vejo que o leite está mais caro. É mais importante o que eu li do que eu estou vivendo no concreto. A partir do momento que a gente não compartilha mais uma realidade comum, socialmente, isso é gravíssimo. Eu saio do real e o conceito de sair do real é a loucura”, explica Arini.
Sabrina Arini é uma das coordenadoras da roda de conversa masculina Fala Homem, um espaço para que os homens possam falar sobre seus sentimentos e emoções, com encontros semanais todas as terças-feiras. Há também outros grupos na internet de discussão dessa chamada masculinidade tóxica como o projeto Memoh. Os dois projetos podem ser encontrados nas redes sociais @fala.homem e @projeto.memoh.
Com informação da Agência Brasil