Taboão dos Palmares
Por Sérgio Vaz
Taboão da Serra é uma cidade de mil faces e não há como decifrá-las sem devorá-las. Impossível pensá-la sem suas ladeiras, seus becos e suas vielas. Cada quebrada é um município no meu estado de espírito. As calçadas são irregulares, por isso, nossa gente anda no meio da rua, desafiando a arrogância dos carros, buzina pra você ver…
Uma das faces mais bonitas da cidade é a nossa gente, e da nossa gente, umas das faces mais bonitas é a do João Barraqueiro, da Kika e da sua família. Gente da pele preta que tem o suor como marca registrada no rosto. Não importa o evento, nem o local, é lá que eles estão. É comum vê-los nas Praças, campos de futebol, shows, favela, comícios, etc. desfilando a grandeza dos que não se entregam, e se recusam a ser escravos do parasitismo.
A barraca é o Quilombo dos Palmares dessa família, tamanha liberdade com que constroem o pão de cada dia. Da mesma barraca lutam como quem faz uma prece ao céu, ou a terra, adorando um deus chamado dignidade.
A coragem que exalam das mãos é de assustar qualquer senhor de engenho ou capitão do mato. Trazem no olhar o desprezo pela chibata, e no coração, o fogo brando que aquece o caldeirão da liberdade. Valeu Zumbi!
Com todo o respeito às ancestralidades, que a mãe África me perdoe, mesmo, mas mãe é aquela que cria, o João e a Kika são filhos de Taboão da serra, irmãos de todos nós.
“Que a pele escura não seja escudo para os covardes que habitam na senzala do silêncio. Porque nascer negro é consequência, ser é consciência”.