UniFECAF faz festa de formatura em hospital para aluno de engenharia dias antes de ele morrer de câncer
Paulo Cesar Gazaro, estudante de Engenharia Civil da UniFECAF Taboão da Serra, realizou seu sonho de se formar 10 dias antes de morrer
Paulo Cesar Gazaro, 45 anos, um estudante de Engenharia Civil da UniFECAF Taboão da Serra, realizou seu sonho de se formar 10 dias antes de morrer. Ele lutava contra com câncer de intestino há 11 meses. O estudante teve sua festa de formatura dentro do Hospital Salvalus, na Zona Leste da Capital Paulista. A cerimônia foi organizada pela mulher dele, Graziela Gonçalves Gazaro, com a ajuda dos médicos, funcionários e da faculdade.
O engenheiro faleceu no dia 30 de maio, em consequência de uma insuficiência respiratória decorrente ao tratamento da doença, que estava em fase de metástase. Ele foi cremado no cemitério Vale dos Reis, em Taboão da Serra.
Ainda abalada e “sem acreditar” que seu “grande amor” se foi, Grazi falou com a reportagem do Portal O Taboanense sobre esse momento especial do marido, com quem viveu 17 anos. Ela contou que o maior sonho de Paulo era se formar, mas foi surpreendido com o diagnóstico de câncer no intestino, na fase final do curso.
Devido à gravidade de sua saúde, ela acreditava que o marido não conseguiria chegar até o fim do curso. Então decidiu, junto com a instituição, antecipar todas as provas e a formatura. “Ele morreu sem saber da gravidade da doença, porque ele não queria saber. Acreditava na cura e fazia planos para depois de formado. O grande sonho do Paulo era se tornar engenheiro, para juntos montarmos um escritório, eu sou arquiteta. O desejo dele é que nós tivéssemos uma empresa juntos. Mesmo internado, dentro do hospital, ele assistia as aulas on-line, fazia as atividades e ele esquecia que estava doente”, contou a esposa.
“Mesmo ruim ele conseguiu finalizar as disciplinas”, ressaltou o professor Sebastião Garcia, Coordenador de Engenharias e Arquitetura UniFECAF , um dos responsáveis por tornar o sonho do Paulo realidade.
Depois de tudo articulado com a diretoria do Hospital Salvalus e com a UniFECAF, a formatura foi agendada. “Eu só falei para ele quando já estava tudo certo”, comentou a esposa.
O professor Sebastião contou, que com a piora do Paulo eles tiveram que antecipar a cerimônia. “Com a piora do Paulo, corremos aqui com tudo o que foi preciso institucionalmente para fazer a colação. Todos os departamentos envolvidos colaboraram com o máximo possível…. Tivemos que adiantar a formatura em uma semana… conseguimos marcar para a segunda [20], às 19h no hospital”.
Grazi lembra que, no fim de semana que antecipou a cerimônia surpresa, Paulo tinha passado muito mal e a família quase cancelou a colação de grau. “Ele estava muito debilitado, mas na segunda-feira [20 de maio], ele não estava bem, mas ele falou que queria ficar na cadeira de rodas para realizar o sonho de se formar”, disse.
“Ele postergou o tratamento para poder participar daquele momento… Quando chegamos lá eu fui conversar com o Paulo, ele estava muito animado. Me agradeceu demais, pessoalmente eu acho que sou eu quem tenho que agradecer por fazer parte momento. Ele estava muito comunicativo, ansioso pela formatura. Fizemos uma colação de grau com um cerimonial reduzido, mas com as falas e ações de um cerimonial de colação. Ele estava radiante, todos em volta estavam radiantes”, relatou Garcia.
“Foi lindo e emocionante, assim Grazi descreveu o momento mais esperado pelo marido. “Foi uma das maiores felicidade do Paulo… No dia ele estava radiante. Uns dias depois ele fala, amor estou muito feliz, não é verdade tudo que está acontecendo, eu me formei. E começou fazer vários planos. Ficou uns dois, três dias como se ele estivesse curado, esqueceu da doença. Estava muito entusiasmado”.
Graziela falou que precisava fazer isso para o marido, esse momento especial. “Ele me agradeceu tanto, com tanto amor. O Paulo me amava muito… Eu disse que tudo que eu fazia para ele era por amor… As pessoas diziam que eu era muito forte. Mas não é força, é o amor que me sustenta. Dos 11 meses que ele ficou doente, eu não saí do lado dele”, relembra. E completou, “estou muito orgulhosa do Paulo, muito orgulhosa do meu marido. Tenho sido muito reconfortada com toda repercussão com essa história de vida dele. O exemplo, o legado. Eu falo que ele não veio para esse plano por acaso. Ele tinha essa missão no final de vida dele, deixar esse exemplo para muita gente, de superação, de determinação, de garra, de luta, de acreditar em sonhos, de resiliência, de força. Eu tenho certeza que de onde ele estiver está muito feliz”.
O vice-reitor da universidade, Marcel Gama, também falou sobre a determinação o engenheiro Paulo e da articulação da UniFECAF e dos professores para ajudar o aluno a concluir o curso. “Nosso professor de engenharia entrou em contato comigo dizendo que a esposa do Paulo Cesar estava muito triste porque o sonho dele era se formar, mas em virtude do câncer ele não iria conseguir. Ele estava já no último semestre de engenharia civil, mas não tinha mais meses de vida, e sim dias. Assim mobilizei todos para anteciparmos as atividades avaliativas – ele estava lúcido e realizando as atividades do próprio hospital – e anteciparmos a formatura deles. Fomos todos ao hospital: coordenador de curso, colegas de sala e fizemos toda a cerimônia. Ele comemorou muito! Foi um momento incrível para todos, e em especial para ele! Coordenador chorou, eu chorei, todo mundo se sensibilizou muito”, conta Gama.
O professor Sebastião Garcia também falou da emoção que foi participar de um momento que ele descreveu como “ímpar” em sua vida. “Há décadas como acadêmico, como coordenador de cursos, essa foi a colação de grau mais marcante que eu participei na minha vida… Foi um momento ímpar na minha vida”.
Embora reduzido, o cerimonial de colação de grau do engenheiro Paulo seguiu todo o protocolo. “Para o Paulo a gente conseguiu replicar esse ambiente [de festa de formatura] no hospital. Tinha familiares, amigos, alunos, professores, capelo, beca, canudo, diploma. Fizemos tudo que foi possível para que ele realizasse o sonho dele… Naquele momento eu fui apenas um instrumento. Foi uma sensação que eu nunca tive na minha vida… Sou muito grato a ele, por ter me convidado para participar desse momento com ele. E o legado de força e determinação, de guerreiro que ele foi. O exemplo que ele deixou, independente da situação que você esteja acometido, você tem que lutar pelos seus sonhos mesmo que você não tenha muito tempo, que era o caso dele”, finalizou Sebastião Garcia.