Waldemar Gonçalves, um homem a frente do seu tempo
Waldemar Gonçalves durante entrevista ao Portal O Taboanense em 2005
Por Eduardo Toledo
Taboão da Serra já tem mais de meio século de história. Nesse tempo todo a memória da cidade, suas histórias e sua gente, foram tratados pelo Poder Público com desdém, esquecidos em um quarto empoeirado na memória dos mandatários que comandaram essa cidade de história tão curta.
Façamos justiça, a atual administração já realizou em pouco menos de um ano e meio mais do que todos os outros governos municipais fizeram juntos pela história de Taboão da Serra. Mas ainda é pouco. E o baluarte da luta pela preservação da memória da cidade se chama Waldemar Gonçalves, um ícone taboanense.
Waldemar Gonçalves nasceu no dia 1º de fevereiro de 1923, filho de imigrantes espanhóis, veio morar na região com cinco anos de idade. Estudou na escola dos japoneses, no bairro do Itaim, onde hoje funciona a Polícia Federal da Raposo Tavares. Completou o ginasial em Pinheiros, onde aprendeu a profissão de alfaiate, e logo depois, passou a exercer a função de modelista industrial de roupas.
Formado em administração de empresas, Waldemar também foi técnico em racionalização do trabalho, têm experiência em cursos de inspetoria de segurança do trabalho e da saúde. Em 1956 aconteceria a grande virada de sua vida, ingressando na área de jornalismo, Waldemar foi um verdadeiro defensor da liberdade de expressão. Começou sua carreira jornalística, trabalhando no jornal O Estado de São Paulo, como correspondente da área do Vale do Ribeira.
Dedicando-se mais ao município, começou a trabalhar em vários jornais da cidade (Gazeta do Taboão, Correio de Notícias, Correio de Bairros). Mais tarde, sentindo a necessidade de um veículo de comunicação num bairro que crescia assustadoramente, Waldemar montou seu próprio jornal em 1978, ‘O Pirajuçara’, que durante 15 anos foi um dos mais importantes jornais da cidade. Extinto em 1993, o periódico deixou uma lacuna aberta na imprensa da região.
Pelos serviços prestados a comunidade, o jornalista Waldemar Gonçalves, foi agraciado pela Câmara Municipal de Taboão da Serra com o diploma de Mérito Cívico, e pela Sociedade de Estudos de Problemas Brasileiros, com medalha e diploma da ordem das Bandeiras no grau de comendador. Além disso, recebeu, recentemente, o título de cidadão taboanense e a medalha 19 de fevereiro.Em suma, recebeu todas as honrarias do município.
Waldemar é uma das pessoas que participaram do movimento emancipatório de Taboão da Serra, ajudando na confecção da bandeira e do hino da cidade. Além desses incontáveis adjetivos, Waldemar é historiador, e é também a história viva da cidade. Como ele próprio se denomina, é uma testemunha ocular das transformações de Taboão da Serra. Talvez seja por essa rica bagagem que ele leva guardada em sua memória e no seu coração, que resolveu escrever o livro, ‘Taboão da Serra sua história e sua gente’, lançado pela sua própria editora (O Pirajuçara).
Essa obra se transformou em referência para todos os professores, estudantes e pessoas que se interessam pela história de nossa cidade, contribuindo assim, para que Taboão da Serra, tenha, além de um futuro promissor, um registro do passado, nesta curta história de luta que muitos desconhecem e alguns até ignoram.
Em 2.000, lançou seu segundo livros sobre a cidade: “Taboão da Serra na virada do milênio”. Intitulado como um memorial jornalístico e fotográfico elaborado e comentado por quem viu o município nascer, a obra foi editada pelo próprio autor, que contou com a ajuda de amigos para organizar o trabalho.
Waldemar Gonçalves acabou se afastando do jornalismo, mas, mesmo assim, alimentava um velho sonho: o de criar uma fundação em Taboão da Serra. A fundação teria um museu, e uma escola de arte, onde as crianças da cidade aprenderiam a importância e a necessidade da arte na formação do caráter do homem.
Mais do que se afastar do jornalismo, Waldemar Gonçalves preferiu ficar recluso, assim que perdeu sua companheira de uma vida inteira, Dona Antonia, que partiu em silêncio e deixou apenas saudade e ótimas lembranças. Sofrendo de Ausheimer, Waldemar não aguentou a solidão e morreu em junho de 2007.
E independente de tudo, de qualquer obra já realizada pelo “velho” Waldemar, todos que o conhecem abrem um sorriso sincero quando lembram de seu engajamento e sonhos. Jornalistas, políticos, amigos, todos sentem um carinho enorme por aquele que ensinou a todos que Taboão da Serra é bem mais do que uma esquina de São Paulo.
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